segunda-feira, 5 de julho de 2010

Construção - Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acbou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

(Ilustração: Muro de Berlim)

Um comentário:

Paulo Tamburro disse...

OLÁ MÁRCIA,

e não podemos parar de construir, sejam pontes materias ou as ilusões subjetivas;

sejam as estradas reais ou simplesmente nossos caminhos afetivos.

Enfim, Márcia,construir é fazer o que de melhor pudermos para garantir a estabilidade das nossas vidas.

No entanto , que estas construções tenham sempre uma base sólida!

Um abração carioca.