domingo, 25 de janeiro de 2009

Rendez-Vous

“És minha!” A voz saiu-lhe mais rouca e sexy que nunca, o olhar aguçado e febril.

Agarrou-lhe o cabelo e beijou-a de raiva e paixão. Mordeu-lhe, com força, o lábio inferior e sentiu o gosto da posse. Prendeu-a a si íntimos e carnais minutos.

Completamente fêmea, ela deixou que ele a conduzisse. Nua, sentada ao seu colo, ressaltavam as costas, as pernas e os sapatos pretos de salto bem alto, numa atitude felina que se revelava como a sua verdadeira natureza.

Tinham retomado há pouco tempo aquela relação muito própria, cúmplice, carnal, arrebatada. Estiveram muitos anos separados, sem que o tempo tivesse eliminado das mãos e dos corpos, memórias de rotas e destinos.

Só ele sabia cumprimentá-la, despenteando-a e passando os dedos na nuca. Só ela entendia nele determinado olhar e pequenas alterações de freqüência na voz.

Existia entre eles esse jogo de comunicação íntima. Uma espécie de jogo confidencial, silencioso, de regras e códigos privados, deliciosamente excitante. Nos encontros em ocasiões sociais, escoravam o intenso desejo, alternando desafio com provocação.

Quando ela chegou, com avareza, lhe desapertou o vestido lilás e a pegou no colo. Ela, em investidas calculadas, oferecia a boca, o corpo e desafiadoramente o provocava com o olhar. Algemou-a. Ela adorou. No tom dourado da pele sobressaía o vison preto que revestia as sensualíssimas algemas.

Submeteu-se-lhe sem capitular, combateu sem lutar, opôs-se sem resistir.

Nenhum outro homem a sabia provocar e dominar. Nenhum homem a conhecia tão bem.

Algemaram os pulsos esquerdos como se fosse a realidade tangível daquele encontro, disseram frases de aparência desconexa e palavras sem sentido mas consentidas.

Na hora mágica do fim da tarde, sentados na varanda, bebendo café, conversaram imenso. Jamais tinham estado tão próximos, tão cúmplices, tão livres.

Também ela nunca tinha visto aquela luz nos seus olhos e pensou que ele nunca estivera tão bonito.

Se ele a descrevia dizendo que nela se misturavam um marcado ar selvagem e um intenso glamour, ela sentiu que nele se corporizava o mais sexy e atraente esbanjador de charme.

- Marlene Dietrich -

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