
Há vinte anos, eu ganhava a vida como motorista de táxi. Encontrei pessoas cujas vidas surpreenderam-me, enobreceram-me, fizeram-me rir e chorar.
Nenhuma tocou-me mais do que a de uma velhinha que eu peguei tarde da noite.
Uma octogenária pequenina apareceu. Ao seu lado havia uma pequena valise de nylon.
Eu peguei a mala e caminhei vagarosamente para o meio-fio, ela ficou agradecendo minha ajuda.
Quando embarcamos, ela deu-me o endereço e pediu:
- O Sr poderia ir pelo centro da cidade?
- Não é o trajeto mais curto - alertei-a prontamente.
- Eu não tenho mais família - continuou - O médico diz que tenho pouco tempo.
Eu disfarçadamente desliguei o taxímetro e perguntei:
- Qual o caminho que a Sra. deseja que eu tome?
Nas duas horas seguintes circulamos pela cidade.
Ela mostrou-me o edifício que havia, em certa ocasião, trabalhado como ascensorista.
Nós passamos pelas cercanias em que ela e o esposo tinham vivido como recém casados em outros tempos, hoje um depósito de móveis, que havia sido um grande salão de dança que ela freqüentara quando mocinha.
- Eu estou cansada. Vamos agora!
Viajamos, então, em silêncio, para o endereço que ela havia me dado.
Chegamos a uma casa de repouso. Dois atendentes caminharam até o táxi, assim que ele parou.
Eu abri a mala do carro e levei a pequena valise para a porta.
A senhora já estava sentada em uma cadeira de rodas.
- Quanto lhe devo? - ela perguntou, pegando a bolsa.
- Você tem que ganhar a vida, meu jovem.
- Há outros passageiros - respondi.
Quase sem pensar, eu curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu comovidamente.
- Você deu a esta velhinha bons momentos de alegria.
Apertei sua mão e caminhei no lusco-fusco da alvorada. Atrás de mim uma porta foi fechada.
Ao relembrar, não creio que eu jamais tenha feito algo mais importante na minha vida.
Nós estamos condicionados a pensar que nossas vidas giram em torno de grandes momentos.
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