domingo, 24 de maio de 2009

A Escolha de Arthur

O jovem Rei Arthur foi surpreendido pelo monarca do reino vizinho enquanto caçava furtivamente num bosque. O Rei poderia tê-lo matado no ato, pois era o castigo para quem violasse as leis da propriedade, contudo se comoveu ante a juventude e a simpatia de Arthur e lhe ofereceu a liberdade, desde que no prazo de um ano trouxesse a resposta a uma pergunta difícil.

A pergunta era: O que querem as mulheres? Semelhante pergunta deixaria perplexo até o mais sábio, e ao jovem Arthur lhe pareceu impossível de respondê-la. 

Contudo aquilo era melhor do que a morte, de modo que regressou a seu reino e começou a interrogar as pessoas: a princesa, a rainha, as prostitutas, os monges, os sábios, o bobo da corte, em suma, a todos e ninguém soube dar uma resposta convincente.

Porém todos o aconselharam a consultar a velha bruxa, porque somente ela saberia a resposta. O preço seria alto, já que a velha bruxa era famosa em todo o reino pelo exorbitante preço cobrado pelos seus serviços.

Chegou o último dia do ano acordado e Arthur não teve mais remédio senão recorrer a feiticeira. Ela aceitou dar-lhe uma resposta satisfatória, com uma condição: primeiro aceitaria o preço. Ela queria casar-se com Lancelot, o cavaleiro mais nobre da mesa redonda e o mais intimo amigo do Rei Arthur!

O jovem Arthur a olhou horrorizado: era feíssima, tinha um só dente, desprendia um fedor que causava náuseas até a um cachorro, fazia ruídos obscenos... nunca havia topado com uma criatura tão repugnante.

Acovardou-se diante da perspectiva de pedir a um amigo de toda a sua vida para assumir essa carga terrível. 

Não obstante, ao inteirar-se do pacto proposto, Lancelot afirmou que não era um sacrifício excessivo em troca da vida de seu melhor amigo e a preservação da Mesa Redonda.

Anunciadas as bodas, a velha bruxa, com sua sabedoria infernal, disse: O que realmente as mulheres querem é Serem Soberanas de suas próprias vidas!! 

Todos souberam no mesmo instante que a feiticeira havia dito uma grande verdade e que o jovem Rei Arthur estaria salvo.

Assim foi, ao ouvir a resposta, o monarca vizinho lhe devolveu a liberdade. Porém que bodas tristes foram aquelas... toda a corte assistiu e ninguém sentiu mais desgarrado entre o alívio e a angústia, que o próprio Arthur. Lancelot, se mostrou cortês, gentil e respeitoso. 

A velha bruxa usou de seus piores hábitos, comeu sem usar talheres, emitiu ruídos e um mau cheiro espantoso. Chegou a noite de núpcias.

Quando Lancelot, já preparado para ir para a cama, aguardava sua esposa, ela apareceu como a mais linda e charmosa mulher que um homem poderia imaginar! Lancelot ficou estupefato e lhe perguntou o que havia acontecido. 

A jovem lhe respondeu com um sorriso doce, que como havia sido cortês com ela, a metade do tempo se apresentaria horrível e outra metade com o aspecto de uma linda donzela. 

Então ela lhe perguntou qual ele preferiria para o dia e qual para a noite. Que pergunta cruel... Lancelot se apressou em fazer cálculos... 

Poderia ter uma jovem adorável durante o dia para exibir a seus amigos e a noite na privacidade de seu quarto uma bruxa espantosa ou quem sabe ter de dia uma bruxa e uma jovem linda nos momentos íntimos de sua vida conjugal.

O nobre Lancelot respondeu que a deixaria escolher por si mesma. Ao ouvir a resposta, ela anunciou que seria uma linda jovem de dia e de noite, porque ele a havia respeitado e permitido ser SOBERANA DE SUA PRÓPRIA VIDA.

(Ilustração: Sean Connery as King Arthur – “First Knight”)

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