terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mude

Mas comece devagar,

Comece na sua velocidade. 

Sente-se diferente, em outra cadeira, 

no outro lado da mesa. 

Mais tarde, mude de mesa. 

Quando sair, ande pelo outro lado da rua, 

depois mude de caminho, 

ande por outras ruas, mais devagar, 

observando os lugares por onde passa. 

Tome outros ônibus, se for o caso. 

Mude por uns tempos o estilo das roupas, 

dê os seus sapatos velhos, 

procure andar descalço por uns dias. 

Tire uma tarde livre 

para passear no parque ou na praia. 

Saia sozinho para ouvir o canto dos pássaros. 

Veja o mundo de outras perspectivas. 

Abra gavetas e portas com a mão esquerda. 

Durma no outro lado da cama. 

Depois, de ponta-cabeça. 

Assista a outros programas de tv, 

compre outros jornais, 

leia outros livros, 

viva outros romances. 

Troque de carro. 

Não faça do hábito um estilo de vida. 

- Ame a novidade. 

Corrija a postura, faça ginástica,

durma mais tarde, ou acorde mais cedo. 

Aprenda uma palavra nova por dia 

numa outra língua. 

Escolha novas comidas, temperos, cores, 

diferentes delícias. 

Experimente a gostosura da pouca quantidade. 

- Tente o novo todo dia. 

O novo lado, 

o novo método, 

o novo jeito, 

o novo sabor, 

o novo prazer, 

o novo amor. 

- A nova vida. 

Faça novos amigos, mantenha novas relações, 

almoce em outros lugares, 

vá a outros restaurantes, 

tome outros tipos de bebida, 

compre pão em outra padaria. 

Almoce mais cedo, jante mais tarde - ou vice-versa. 

Escolha outro mercado, 

outra marca de sabão, novos cremes. 

Tome banho em horários variáveis. 

Use canetas de outras cores. 

Vá passear em outros lugares. 

(Comece agora uma viagem para bem longe do aqui.) 

Faça amor de modos diferentes. 

Troque de bolsa, de carteira, de malas. 

compre novos óculos, 

escreva outras poesias, jogue fora o despertador. 

Abra conta em outro banco. 

Vá a outros cinemas, novos cabeleireiros, 

outros teatros. 

Visite novos museus. 

- Mude. 

Você conhecerá coisas melhores 

e coisas piores do que as já conhecidas, 

mas não é isso o que importa. 

O mais importante é a mudança, 

o movimento, o dinamismo, 

a energia. 

Dessa forma, apenas dessa forma - você viverá. 

- Só o que está morto não muda! 

- Clarice Lispector –

(Ilustração: MAGRITTE, René - Le fils de l'homme)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Rendez-Vous

“És minha!” A voz saiu-lhe mais rouca e sexy que nunca, o olhar aguçado e febril.

Agarrou-lhe o cabelo e beijou-a de raiva e paixão. Mordeu-lhe, com força, o lábio inferior e sentiu o gosto da posse. Prendeu-a a si íntimos e carnais minutos.

Completamente fêmea, ela deixou que ele a conduzisse. Nua, sentada ao seu colo, ressaltavam as costas, as pernas e os sapatos pretos de salto bem alto, numa atitude felina que se revelava como a sua verdadeira natureza.

Tinham retomado há pouco tempo aquela relação muito própria, cúmplice, carnal, arrebatada. Estiveram muitos anos separados, sem que o tempo tivesse eliminado das mãos e dos corpos, memórias de rotas e destinos.

Só ele sabia cumprimentá-la, despenteando-a e passando os dedos na nuca. Só ela entendia nele determinado olhar e pequenas alterações de freqüência na voz.

Existia entre eles esse jogo de comunicação íntima. Uma espécie de jogo confidencial, silencioso, de regras e códigos privados, deliciosamente excitante. Nos encontros em ocasiões sociais, escoravam o intenso desejo, alternando desafio com provocação.

Quando ela chegou, com avareza, lhe desapertou o vestido lilás e a pegou no colo. Ela, em investidas calculadas, oferecia a boca, o corpo e desafiadoramente o provocava com o olhar. Algemou-a. Ela adorou. No tom dourado da pele sobressaía o vison preto que revestia as sensualíssimas algemas.

Submeteu-se-lhe sem capitular, combateu sem lutar, opôs-se sem resistir.

Nenhum outro homem a sabia provocar e dominar. Nenhum homem a conhecia tão bem.

Algemaram os pulsos esquerdos como se fosse a realidade tangível daquele encontro, disseram frases de aparência desconexa e palavras sem sentido mas consentidas.

Na hora mágica do fim da tarde, sentados na varanda, bebendo café, conversaram imenso. Jamais tinham estado tão próximos, tão cúmplices, tão livres.

Também ela nunca tinha visto aquela luz nos seus olhos e pensou que ele nunca estivera tão bonito.

Se ele a descrevia dizendo que nela se misturavam um marcado ar selvagem e um intenso glamour, ela sentiu que nele se corporizava o mais sexy e atraente esbanjador de charme.

- Marlene Dietrich -

sábado, 24 de janeiro de 2009

Os Três Mal-Amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

 

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

 

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

 

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

 

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

 

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

 

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

 

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

 

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

 

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

 

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

- João Cabral de Melo Neto -

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Quem Não Dá Assistência, Abre Concorrência

Você mulher da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o "nível" intelectual, cultural e, principalmente, "liberal" de seu marido, namorado e etc.

Às vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser traída - ou nos termos usuais: "corneada". Saiba de uma coisa... esse risco é iminente, a probabilidade disso acontecer é muito grande, e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça ou, então, assumir seu "chifre" em alto e bom som.

Você deve estar perguntando porquê eu gastaria meu precioso tempo falando sobre isso. Entretanto, a aflição feminina diante da traição vem me chamando a atenção já há tempos.

Mas o que seria um "homem moderno"?

A princípio seria aquele que se ama acima de tudo, que não perde (e nem tem) tempo com/para futilidades, é aquele que trabalha porque acha que o trabalho engrandece, que é independente sentimentalmente dos outros, que é corajoso, companheiro, confidente, amante...

É aquela que às vezes tem uma crise súbita de ciúmes, mas que não tem vergonha nenhuma em admitir que está errado e lhe envolver em seus braços...

É aquele que consegue ao mesmo tempo ser forte e meigo, desarrumado e lindo...

Enfim, o homem moderno é aquele que não tem medo de nada nem de ninguém, olha a vida de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer...

Assim, após um processo "investigatório" junto a esses "homens modernos" pude constatar o pior:

VOCÊ SERÁ (OU É???) "corna", a menos que:

- Nunca deixe um "homem moderno" inseguro. Eles simplesmente traem, sem dó nem piedade.

- Não ache que ele tem poderes "adivinhatórios". Ele tem de saber - da sua boca - o quanto você gosta dele. Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas acima. 

- Não ache que é normal sair com as amigas (seja pro shopping, pra cuidar de si mesma...) mais do que duas vezes por semana, três vezes então é assinar atestado de "chifruda". Os "homens modernos" dificilmente andam implicando com isso, entretanto eles são categoricamente "cheios de amor pra dar" e precisam da "presença feminina". Se não for a sua, quem sabe da melhor amiga... bem...

- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dele ligar pra aquela ex boa de cama é grandessíssimo.

- Satisfaça-o sexualmente. Os "homens modernos" têm um pique absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos 20 aos 38 anos; eles pensam em - e querem - fazer sexo todos os dias... bom, nem precisa dizer que se não for com você...

- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ele perceba isso. Mulheres livres mau (ou bem) intencionadas sempre existem, e estas quando querem são peritos em levar um homem à loucura. Então, leve-o você, afinal, ele é seu ou não é????

Nem pense em provocar "ciuminhos" vãos. Como pude constatar, homem inseguro é uma máquina colocadora de chifres. 

- Em hipótese alguma deixe-o desconfiar do fato de você estar saindo com outro. Essa mera suposição da parte deles dá ensejo ao um "chifre" tão estrondoso que quando você acordar, minha amiga, já existirá alguém MUITO MAIS "devoradora" do que você... só que o prato principal, bem...dessa vez é a SEU marido. 

Sabe aquela gostosona que, você sabe, sairia com a seu marido a qualquer hora? Bem... de repente a recíproca também pode ser verdadeira. Basta ele, só por um segundo, achar que você merece... Quando você reparar... já foi. 

- Tente estar menos "cansada". Um "homem moderno" também trabalhou o dia inteiro e, provavelmente, ainda tem fôlego para - como diziam os homens de antigamente - "dar uma", mesmo que seja para depois, virar pro lado e simplesmente dormir. 

- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair viviam se cruzando em "baladas", "se pegando" em lugares inusitados, trocavam e-mails ou telefonemas picantes, a chance dele gostar disso é muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. O "homem moderno" não pode sentir falta dessas coisas... senão...

Bem amigas, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão "quem não dá assistência, abre concorrência".

Deste modo, se você está ao lado de um homem de quem realmente gosta e tem plena consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de qualidade), pense bem antes de dar alguma dessas "mancadas"... envolva-o, ame-o, e, principalmente, faça-o saber disso.

Ele vai pensar milhões de vezes antes de dar bola pra aquela "gostosona" que vive enchendo-o de olhares... e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!

- Adaptação do texto de Arnaldo Jabor -

(Ilustração: Jean & Logan)

Prece de Cáritas

"Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus, porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles". (MT 18, 19-20)

"Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis". (MT 21, 22)

"E quando para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também vosso Pai, que está nos céus também perdoe os vossos pecados. Mas se não perdoares, tampouco vosso Pai que está nos céus vos perdoará os vossos pecados. " (MC 11, 25-26)

Deus, nosso Pai, que sois todo poder e bondade, dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz aquele que procura a verdade, ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.

Deus! Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao doente repouso.

Pai! Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, à criança o guia, ao órfão o pai.

Senhor! Que vossa bondade se estenda sobre tudo o que criastes. Piedade, Senhor, para aqueles que vos não conhecem; esperança para aqueles que sofrem. Que vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte a paz, a esperança e a fé.

Deus, um raio, uma faísca de vosso amor pode abrasar a terra; deixai-nos beber as fontes dessa bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão. Um só coração, um só pensamento subirá até vós, como um grito de reconhecimento e de amor. Como Moisés sobre a montanha, nós vos esperamos com os braços abertos oh! Bondade, oh! Beleza, oh! Perfeição e queremos de alguma sorte merecer vossa misericórdia.

Deus, dai-nos a força de ajudar o progresso, a fim de subirmos até vós. Dai-nos a caridade pura. Dai-nos a fé e a razão. Dai-nos a simplicidade que fará das nossas almas o espelho onde deverá se refletir a Vossa Imagem.

Oração Dominical

† PAI NOSSO QUE ESTAIS NOS CÉUS, SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME. Cremos em vós, Senhor, porque tudo revela o vosso poder e a vossa bondade. A harmonia do universo dá testemunho de sabedoria, prudência e previdência que ultrapasse todas as faculdades humanas. O nome de um ser soberanamente grande e sábio se acha inscrito em todas as obras da criação - desde a folhinha do arbusto até um pequeno inseto; até os astros que se movem no espaço. Por toda a parte, vemos a prova de uma solicitude paternal. Cego é, pois, aquele que não vos glorifica em vossas obras; ingrato aquele que não vos rende ações de graças.

† VENHA A NÓS O VOSSO REINO. Senhor, destes aos homens leis cheias de sabedoria que os fariam felizes se eles as observassem. Obedecendo a essas leis, fariam reinar entre si a paz e a justiça, auxiliar-se-iam mutuamente em vez de se hostilizarem como o fazem. O forte sustentaria o fraco em vez de o esmagar. Todos evitariam os males que se originam dos abusos e dos excessos de toda a ordem. Todas as misérias deste mundo provêm da violação das vossas leis. Porquanto, nenhuma dessas violações deixa de ter conseqüências fatais.

Destes ao bruto o instinto que lhe traça os limites do necessário e ele maquinalmente se conforma. Ao homem, porém, além desse instinto, destes a liberdade de observar ou infringir aquelas de vossas leis que pessoalmente lhes dizem respeito, isto é, a liberdade de escolher entre o bem e o mal, a fim de que lhe pertençam o mérito e a responsabilidade de suas ações.

Ninguém poderá protestar a ignorância de vossas leis, pois que, com a vossa paternal previdência, quisestes que na consciência de cada um, sem distinção de culto nem de nações, ficassem elas gravadas. Desconhecem-vos aqueles que as violam.

Dia virá, entretanto, conforme prometestes, que todos as praticarão. Então, a incredulidade terá desaparecido. Todos vos reconhecerão soberano senhor de todas as coisas e o reinado das vossas leis estará implantado na terra.

Dignai-vos, Senhor, apressar-lhe o advento, dando aos homens a luz que os guie no caminho da verdade.

† FAÇA-SE A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU. Se a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior para com o superior, quão maior não deverá ser a da criatura para com o seu criador? Fazermos a vontade, senhor, é obedecer as vossas leis, é submeter-se sem murmurar aos vossos decretos divinos. O homem se lhe submeterá quando compreender que sois a fonte de toda sabedoria e quem sem vós, ele nada pode. Fará então a vossa vontade na terra como os eleitos a fazem no céu.

† DAI-NOS O PÃO DE CADA DIA. Dai-nos o alimento que mantêm as forças do nosso corpo. Dai-nos também o alimento espiritual para o desenvolvimento do nosso espírito.

O bruto encontra nas pastagens com que se alimentar. O homem, porém, tem que adquirir com a sua atividade, com os recursos da sua inteligência, o alimento necessário (por isso que o criastes livre).

Assim é que lhe dissestes: "tirarás da terra o teu alimento com o suor do teu rosto". Por esta forma, lhe fizestes do trabalho uma obrigação, a fim de que ele exercitasse a inteligência, procurando meios de prover as suas necessidades e ao seu bem-estar, uns por meio do trabalho material, outros pelo trabalho intelectual. Sem ter que trabalhar, permaneceria estacionário e não poderia aspirar a felicidade dos espíritos superiores.

Auxiliais o de boa vontade que em vós confia para obter aquilo de que necessita, mas não auxiliais aquele que se compraz na ociosidade, desejando tudo alcançar sem trabalho, como também não auxiliais o que busca o supérfluo. Quantos sucumbem por sua própria culpa por meio da incúria, da imprevidência, da ambição e por não terem querido contentar-se com o que lhes haveis dado? Esses são os obreiros do seu próprio infortúnio, e não têm o direito de se queixar, porquanto se vêem punidos daquilo mesmo que lhes foi causa de pecar (mas nem sequer a esses abandonais, porque sois infinitamente misericordioso). 

† PERDOAI AS NOSSAS DÍVIDAS COMO PERDOAMOS AOS QUE NOS DEVEM; PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS COMO PERDOAMOS AOS QUE NOS HAJAM OFENDIDO. Toda vez que infringimos as vossas leis, Senhor, uma ofensa vos fazemos. Contraímos uma dívida que cedo ou tarde teremos de saldar.  À vossa infinita misericórdia rogamos que a perdoe, sob a promessa de empregarmos esforços por não contrair novas dívidas.

Da caridade fizestes para nós uma lei expressa, mas a caridade não consiste apenas em socorrer nossos semelhantes nas suas necessidades. Consiste também no esquecimento e no perdão das ofensas. Com que direito reclamaríamos a vossa indulgência, se não soubéssemos ser indulgentes com aqueles de quem temos queixas?

Dai-nos, ó Deus, ó Pai Poderoso, força para abafar em nossa alma todo o ressentimento, todo o ódio, todo o rancor.

† NÃO NOS DEIXEIS ENTREGUES À TENTAÇÃO, MAS LIVRAI-NOS DO MAL. Dai-nos, Senhor, força para resistir às sugestões dos maus que tentam desviar-nos do caminho do bem. Senhor, amparai-nos em nossas fraquezas, inspirai-nos por intermédio dos anjos da guarda, o desejo de nos corrigirmos das nossas imperfeições a fim de que sejamos dignos do vosso amor. 

† ASSIM SEJA. Permiti, senhor, que os nossos desejos se realizem. Inclinamo-nos, porém, diante da vossa sabedoria infinita. Em tudo que não nos é dado compreender, cumpra-se a vossa vontade e não a nossa, pois que só quereis o nosso bem e melhor do que nós sabeis o que nos é útil . 

Senhor, a Vós dirigimos esta prece por nós mesmos e também por todas as almas sofredoras, pelos nossos amigos e inimigos, por todos os que solicitam a nossa assistência e por todos imploramos a vossa misericórdia e a vossa benção.

(FONTE: KARDEC, Allan – “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo XXVIII)

Ilustração: Aurora boreal