domingo, 18 de janeiro de 2009

Bandeira Branca de Oxalá

Ela via seu corpo no caixão, cercado de velas e flores.

O altar estava fechado com cortinas brancas.

As mesmas cortinas que tantas vezes ela abrira quando do inicio das giras

Os filhos de santo foram chegando aos poucos, conforme a noticia ia se espalhando pela cidade.

Choro intenso pelo salão.

De vez em quando alguém desmaiava de emoção.

Velas foram acessas nos lugares propícios, oferendas foram arriadas.

Embora serena tristeza e alegria se misturavam dentro dela.

Tristeza pela saudade de todos que conviveram com ela nestes anos todos de prática da caridade.

A alegria se devia ao fato de ter consciência que cumpriu sua missão espiritual.

Nunca renegara sua religião, sempre prestou a caridade com amor e dedicação.

Jamais deixara de atender aqueles que lhe procuravam.

Muitos estavam ali ao lado de seu corpo chorando emocionados reverenciando sua existência e saudosos da

Presença de seus guias.

Neste momento adentram ao terreiro sacerdotes e sacerdotisas, seus amigos de fé, que se posicionam ao lado do caixão.

Sente o amor e a amizade que os une.

Percebe que todos ali também compactuam da alegria de pertencerem ao exército branco de Oxalá.

Os atabaques estão cobertos, mas neste instante ela os ouve tocar.

Tocam como nas giras que tantas vezes comandou.

Olha para a curimba e leva um susto ao ver um caboclo tocando o atabaque, reconhece seu mentor espiritual.

Outros caboclos estão ali ao lado, preto velho, baianos, marinheiros, boiadeiros, erês e demais entidades também.

Percebe que são suas entidades e de seus filhos de fé.

Lembra que muitas delas foram “puxadas” por ela.

Lágrimas de alegria e reverência escorrem-lhe pela face.

O caixão esta preste a ser fechado.

Sente a tristeza aumentar no humilde terreiro.

Percebe em todos os presentes um pensamento de gratidão e saudade não só

Para com ela, mas principalmente para com as entidades que ela carregou com tanto carinho.

Sente alegria nesse momento.

Se antes pairava alguma dúvida, agora tinha convicção de ter cumprido a missão.

O hino da Umbanda está sendo cantado, instintivamente leva sua mão ao peito e canta junto.

Sente uma ligeira tontura, fecha os olhos não sem antes verificar que o cortejo esta a caminho da casa de Obaluaiê.

Quando reabre seus olhos esta numa linda casa cercada de árvores.

Divisa pela janela uma linda cachoeira, uma pedreira e ao longe lindos campos verdejantes.

Sabe que está diante dos diversos reinos dos orixás.

Seu caboclo entra no quarto sorrindo.

Ela bate cabeça.

O caboclo explica que ali isso não mais será necessário.

Explica-lhe que todos seus guias estão lá fora a esperá-la.

Aguardam para lhe agradecer por ter servido de “cavalo” durante sua vida terrena.

Fala ainda que estão felizes, pois a semente da caridade plantada por eles no terreiro dera bons frutos.

Emocionada caminha para porta amparada por seu mentor.

É recebida com festa por suas entidades.

Chora e sorri ao lado deles.

Um pouco além percebe que exu e pomba gira a aguardam, caminha então na direção deles.

É saudada com a gargalhada característica dessas entidades.

Eles também lhe agradecem por ter sido um “burro” dedicado e fiel.

Conversam animadamente por horas e despedem-se fraternalmente.

O tempo passa, ela já trabalha na Aruanda, auxilia a espiritualidade, aprimora os conhecimentos.

Sempre que seu terreiro “abre a gira” (agora comandadas pelos filhos de fé que ficaram) é avisada e sabe que a caridade continua a ser prestada.

A vida segue seu rumo.

Neste mundo em que se encontra de qualquer lugar é possível avistar uma montanha e em seu cume uma enorme bandeira branca, que ela e todos reverenciam com amor.

Bandeira que antes (quando encarnada), saudava em cânticos e hoje visualiza.

Bandeira que está eternamente hasteada no coração do povo umbandista.

Bandeira que representa a fé, a caridade, o amor, o respeito à vida e a todas as criaturas de deus.

A famosa bandeira branca de Oxalá.

Ela e todos ali sabem que tremulara eternamente, pois sempre haverá médiuns e guias dispostos e praticar a caridade e erguerem juntos esta bandeira.

Salve o ritual de umbanda sagrada!

Saravá todos mediadores de Aruanda!

Salve todos guias e orixás!

Saravá!!!

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