domingo, 28 de junho de 2009

Ouça Seu Coração!

Os homens têm medo de realizar seus maiores sonhos

porque acham que não o merecem, ou não vão conseguir!

Mas o medo não é uma coisa concreta.

Ele está em seus corações!!

Os corações morrem de medo só de pensar

em amores que partiram para sempre...

Em momentos que poderiam ter sido bons e não foram...

Quando isso acontece, acabamos sofrendo muito

e o coração tem medo de sofrer.

Mas o medo é pior que o próprio sofrimento.

Nenhum coração jamais sofreu

quando foi em busca de seus sonhos,

porque cada momento de busca

é um momento de vida, de energia,

de encontro com Deus e com a eternidade.

Então... Ouça seu coração!

Ninguém consegue fugir dele.

Por isso, é melhor escutar o que ele fala

para que não venha um golpe que você não espera,

porque você jamais vai conseguir mantê-lo calado.

Mesmo que finja não escutar o que ele diz,

ele estará dentro do seu peito,

repetindo o que pensa sobre a vida e o mundo...

O dia inteiro...

O tempo todo...

Ainda bem!

Por isso, ouça o seu coração!

- Paulo Coelho

(Ilustração: Robert Redford)

Encerrando Ciclos...

Sempre é preciso saber

quando uma etapa chega ao final.

Se insistirmos em permanecer nela

mais do que o tempo necessário,

perdemos a alegria

e o sentido

das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos,

fechando portas,

terminando capítulos,

não importa o nome que damos.

O que importa é deixar no passado

os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho?

Terminou uma relação?

Deixou a casa dos pais?

Partiu para viver em outro país?

A amizade tão longamente cultivada

desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo

se perguntando por que isso aconteceu.

Pode dizer para si mesmo

que não dará mais um passo

enquanto não entender as razões

que levaram certas coisas,

que eram tão importantes e sólidas em sua vida,

serem subitamente transformadas em pó.

Mas tal atitude

será um desgaste imenso para todos:

seus pais, seu marido ou sua esposa,

seus amigos, seus filhos, sua irmã...

Todos estarão encerrando capítulos,

virando a folha,

seguindo adiante,

e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo

no presente e no passado,

nem mesmo quando tentamos

entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará:

não podemos ser eternamente meninos,

adolescentes tardios,

filhos que se sentem culpados

ou rancorosos com os pais,

amantes que revivem

noite e dia

uma ligação com quem já foi embora

e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam

e o melhor que fazemos

é deixar que elas realmente possam ir embora.

Por isso é tão importante

(por mais doloroso que seja!)

destruir recordações,

mudar de casa,

dar muitas coisas para orfanatos,

vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível

é uma manifestação do mundo invisível,

do que está acontecendo em nosso coração

e o desfazer-se de certas lembranças

significa também abrir espaço

para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora.

Soltar.

Desprender-se.

Ninguém está jogando

nesta vida com cartas marcadas.

Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo,

não espere que reconheçam seu esforço,

que descubram seu gênio,

que entendam seu amor.

Pare de ligar sua televisão emocional

e assistir sempre ao mesmo programa,

que mostra como você sofreu com determinada perda:

isso o estará apenas envenenando

e nada mais.

Não há nada mais perigoso

que rompimentos amorosos que não são aceitos,

promessas de emprego

que não têm data marcada para começar,

decisões que sempre são adiadas

em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo

é preciso terminar o antigo:

diga a si mesmo que o que passou,

jamais voltará.

Lembre-se de que houve uma época

em que podia viver sem aquilo,

sem aquela pessoa...

Nada é insubstituível,

um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio,

pode mesmo ser difícil,

mas é muito importante.

Encerrando ciclos.

Não por causa do orgulho,

por incapacidade, ou por soberba.

Mas porque simplesmente

aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta,

mude o disco,

limpe a casa,

sacuda a poeira.

Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

- Paulo Coelho

(Ilustração: Vanessa Redgrave in “Blow up”)

Acostumar-se

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos

e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.

E porque não olha para fora,

logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.

E porque não abre as cortinas,

logo se acostuma a acender cedo a luz.

E à medida que se acostuma,

esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã

sobressaltado porque está na hora.

A tomar o café correndo porque está atrasado.

A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.

A comer sanduíche porque não dá para almoçar.

A sair do trabalho porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado.

A deitar cedo, e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro

e ouvir no telefone: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.

A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo

o que deseja e o de que necessita.

E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a pagar mais do que as coisas valem.

E, a saber, que cada vez pagará mais.

E a procurar mais trabalho,

para ganhar mais dinheiro,

para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição.

Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.

À luz artificial de ligeiro tremor.

Ao choque que os olhos levam na luz natural.

Às bactérias de água potável.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber,

vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se a praia está contaminada,

a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.

Se o cinema está cheio,

a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se o trabalho está duro

a gente se consola pensando no fim de semana.

E se com a pessoa que a gente ama,

à noite ou no fim de semana não há muito o que fazer,

a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito

porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta e se gasta de tanto se acostumar,

e se perde em si mesma.

- Clarice Lispector –

(Ilustração: Errol Flynn & Joan Blondell)

O Sonho

Há momentos na vida

em que sentimos tanto a falta de alguém…

que o que mais queremos é

tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la…

Sonhe com aquilo que você quiser…

Seja o que você quer ser…

Porque você possui apenas uma vida

E nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce,

dificuldades para fazê-la forte,

tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas,

elas sabem fazer o melhor das oportunidades

que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram…

Para aqueles que buscam e tentam sempre…

E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas

que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante

é baseado num passado intensamente vivido.

Você só terá sucesso na vida

quando perdoar os erros e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar…

…duram uma eternidade...

A vida não é de se brincar

porque um belo dia se morre.

- Clarice Lispector –

(Ilustração: Kathryn Grayson)

Restos Do Carnaval

Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.

No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.

E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.

Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.

Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.

Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.

Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.

Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.

Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.

Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.

Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.

- Clarice Lispector –

(Ilustração: Howard Keel & Betty Hutton – “Annie get your gun”)