quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Louco

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido,

despertei de um sono profundo e notei que

todas as minhas máscaras tinham sido roubadas –

as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas –

e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim

e alguns correram para casa, com medo de mim

E quando cheguei à praça do mercado,

um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!"

Olhei para cima, pra vê-lo.

O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,

e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,

e não desejei mais minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:

"Benditos, bendito os ladrões que roubaram minhas máscaras!"

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:

a liberdade e a segurança de não ser compreendido,

pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

- Gibran Kahlil Gibran –

(Ilustração: Johnny Depp as Mad Hatter - “Alice in Wonderland”)

2 comentários:

Fabricio Marchi disse...

Ela me pediu desesperadamente !!

Enfim ... O ruim é aceitar que se é louco , depois disso feito , nada mais provoca espanto !!

Somos todos loucos !!

DANI disse...

Adorei isso!!!!
Me identifico muito com a tal loucura!!!