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"Seja fiel nas pequenas coisas porque é nelas que mora a sua força."
- Madre Teresa de Calcutá -
Conta-se que certa vez um homem se aproximou de Deus e pediu para que Ele lhe esclarecesse sobre uma coisa da criação que, segundo seu ponto de vista, não tinha nenhuma utilidade, nenhum sentido... Deus o atendeu e perguntou qual era a falha que ele havia notado na criação.
- Senhor Deus, - disse o interessado - sua criação é muito bonita, muito funcional, cada coisa tem sua razão de ser... Mas, embora me esforce para compreender sua finalidade, tem uma coisa que me parece não servir para nada.
- E que coisa é essa que não serve para nada? perguntou Deus.
- É o horizonte, respondeu o homem. Afinal, para que serve o horizonte? Se eu caminho um passo na direção do horizonte, ele se afasta um passo de mim. Se eu caminho dez passos, ele se afasta outros dez passos... Se eu caminho quilômetros na direção do horizonte, ele se afasta os mesmos quilômetros de mim... Isso não faz sentido! O horizonte não serve para nada.
Deus olhou para seu ingênuo filho, sorriu e disse:
- Mas é justamente para isso que serve o horizonte: para fazê-lo caminhar!...
Tantas vezes nós nos acomodamos em nossos estreitos limites que nos esquecemos de andar alguns passos na direção do horizonte, que nos convida incessantemente a caminhar. Quando nos esforçamos para ultrapassar nossos próprios limites, novas oportunidades surgem, para que avancemos na direção do infinito que Deus nos reserva como meta de perfeição.
Assim, se você está paralisado pela falta de perspectivas que o incentivem a ir adiante, em busca do auto-aperfeiçoamento, olhe para frente e ouça o chamamento do horizonte. Contemple as estrelas e deseje alcançá-las: isso não é um sonho impossível.
Você é filho de Deus, portanto, herdeiro do universo. Herdeiro das estrelas, dos mundos que gravitam nos espaços infinitos, convidando-nos a seguir em frente, vencendo os obstáculos naturais que se apresentam na caminhada evolutiva.
Mas para conseguir esse intento, é preciso esforço e perseverança. É preciso vontade de romper com as amarras que ao longo dos séculos nos mantêm presos aos baixos planos da experiência carnal. E lembre-se, sempre, de que cada passo que você der na direção do horizonte, este mais se afastará para que você continue caminhando...
(FONTE: Momento Espírita)
"O orgulho divide-nos ainda mais que o interesse."
(Auguste Comte)
Na relva verdejante, uma violeta colorida exalava seu perfume. Um animal invejoso, que por ali passava, a ameaçou: “Vou te esmagar e acabar com a tua beleza”.
Ela não se perturbou e respondeu: “Se me esmagares, eu te abençoarei com o meu perfume e viverei impregnada em ti”.
*
Na noite calma, o pirilampo divertia-se a acender e apagar sua lanterna. Sentia-se feliz em trazer os raios das estrelas nas pequenas asas.
O sapo, que coaxava à beira da lagoa, o invejou e ameaçou: “Vou te cobrir de baba peçonhenta e vou apagar a tua luz”.
O pequenino inseto sorriu e contestou: “Se me cobrires de peçonha, eu a sacudirei toda, libertando-me. Depois, prosseguirei a brilhar”.
*
A flauta, recostada em um estojo de veludo, zombou de um ágil rouxinol preso em uma gaiola de madeira: “Sou maior do que tu e mais nobre. Tu estás preso em uma gaiola de madeira. Eu, repouso tranqüila em rico estojo de veludo. Sou toda de prata, passeio por mãos perfumadas e recebo os beijos do artista que me sopra. És um pobre coitado!”
A avezinha feliz, embora prisioneira, respondeu: “Não te invejo, amiga. É verdade que és muito preciosa, bela e forte. Eu sou uma pequena ave, frágil e prisioneira. Apesar disso, desfruto de alegria porque posso cantar, quando queira. Não preciso esperar que ninguém me sopre”. E, embevecida, pôs-se a trinar.
*
A vela mal foi acesa, tremeluziu e, embora espalhando fraca luminosidade, espancou as trevas próximas. Orgulhosa, passou a se gabar de ter vencido a sombra.
Uma estrela de primeira grandeza, fulgurando no infinito, prosseguiu espalhando a sua intensa luz, sem nada comentar.
O pavio, na lamparina, dizia de forma petulante ao azeite em que estava mergulhada: “Como és pegajoso e desagradável. Nem podes imaginar o quanto te desprezo”. O combustível, atento ao seu mister, nada disse. Continuou a servir, humilde, permitindo que a lamparina ardesse e brilhasse, porque essa era a sua tarefa. E a desejava cumprir com alegria.
*
O regato corria risonho por entre as pedras miúdas. Olhando para suas margens, acusou a vegetação abundante de lhe roubar o líquido precioso.
Mãos irresponsáveis vieram, um dia, e arrancaram violentamente toda a vegetação. O córrego sorriu, satisfeito.
Tempos depois, sem a defesa natural que a sombra lhe propiciava, a ardência do sol absorveu a água e o regato desapareceu.
* * *
O orgulho e a soberba são sempre ilusórios. Fenecem como a erva no campo, ante a canícula insistente.
A humildade, por sua vez, permanece e felicita.
Sê tu aquele cuja importância ninguém nota. Mas, quando se faz ausente, de imediato tem sua ausência percebida.
Cumpre, assim, com o teu dever e não te preocupes com a presunção dos que estão enganados; daqueles que acreditam que são as criaturas mais importantes da Terra.
Continua a agir no bem, a servir sempre.
Age com inteireza e nunca passarás, mesmo que a morte te arrebate ou te ausentes para outras paragens, por alongado tempo.
Mantém acesa a luz do entusiasmo em tuas realizações e, sabendo-te fadado à grande luz, deixa que brilhem as tuas aspirações nobres.
Se não podes ser o pão que repleta as mesas, sê o grão de trigo e confia no futuro.
(FONTE: Momento Espírita, com base no capítulo “Presunção e Grandeza Real”, do livro “Em algum lugar do futuro”, Espírito Eros, por Divaldo Franco e capítulos XX e XXX do livro “Afinidade”, do Espírito Joanna de Ângelis, ed. Leal.)
Contam as lendas que, quando o Criador concluiu a sua obra, dividiu-a em departamentos e os confiou aos cuidados dos Anjos. Após algum tempo, o Todo Poderoso resolveu fazer uma avaliação da sua criação e convocou os servidores para uma reunião.
O primeiro a falar foi o Anjo das luzes. Postou-se respeitosamente diante do Criador e lhe falou com entusiasmo:
"Senhor, todas as claridades que criastes para a Terra continuam refletindo as bênçãos da sua misericórdia. O Sol ilumina os dias terrenos com os resplendores divinos, vitalizando todas as coisas da natureza e repartindo com elas o seu calor e a sua energia."
Deus abençoou o Anjo das luzes, concedendo-lhe a faculdade de multiplicá-las na face do mundo.
Depois foi a vez do Anjo da terra e das águas, que exclamou com alegria:
"Senhor, sobre o mundo que criastes, a terra continua alimentando fartamente todas as criaturas; todos os reinos da natureza retiram dela os tesouros sagrados da vida. E as águas, que parecem constituir o sangue bendito da sua obra terrena, circulam no seio imenso, cantando as suas glórias."
O Criador agradeceu as palavras do servidor fiel, abençoando-lhe os trabalhos. Em seguida, falou radiante, o Anjo das árvores e das flores.
"Senhor, a missão que concedestes aos vegetais da Terra vem sendo cumprida com sublime dedicação. As árvores oferecem sua sombra, seus frutos e utilidades a todas as criaturas, como braços misericordiosos do vosso amor paternal, estendidos sobre o solo do planeta."
Logo após falou o Anjo dos animais, apresentando a Deus seu relato sincero.
"Os animais terrestres, Senhor, sabem respeitar as suas leis e acatar a sua vontade. Todos têm a sua missão a cumprir, e alguns se colocam ao lado do homem, para ajudá-lo. As aves enfeitam os ares e alegram a todos com suas melodias admiráveis, louvando a sabedoria do seu Criador."
Deus, jubiloso, abençoou seu mensageiro, derramando-lhe vibrações de agradecimento.
Foi quando, então, chegou a vez do Anjo dos homens. Angustiado e cabisbaixo, provocando a admiração dos demais, exclamou com tristeza:
"Senhor, ai de mim! Enquanto meus companheiros falam da grandeza com que são executados seus decretos na face da Terra, não posso afirmar o mesmo dos homens... Os seres humanos se perdem num labirinto formado por eles mesmos. Dentro do seu livre-arbítrio criam todos os motivos de infelicidade. Inventaram a chamada propriedade sobre os bens que Lhe pertencem inteiramente, e dão curso ao egoísmo e a ambição pelo domínio e pela posse. Esqueceram-se totalmente do seu Criador e vivem se digladiando."
Deus, percebendo que o Anjo não conseguia mais falar porque sua voz estava embargada pelas lágrimas, falou docemente: "Essa situação será remediada".
Alçou as mãos generosas e fez nascer, ali mesmo no céu, um curso de águas cristalinas e, enchendo um cântaro com essas pérolas líquidas, entregou-o ao servidor, dizendo:
"Volta à Terra e derrama no coração de meus filhos este líquido celeste a que chamarás água das lágrimas... Seu gosto é amargo, mas tem a propriedade de fazer que os homens me recordem, lembrando-se da minha misericórdia paternal. Se eles sofrem e se desesperam pela posse passageira das coisas da Terra, é porque me esqueceram, esquecendo sua origem divina."
... e desde esse dia o Anjo dos homens derrama na alma atormentada e aflita da humanidade, a água bendita das lágrimas remissoras.
A lenda encerra uma grande verdade: cada criatura humana, no momento dos seus prantos e amarguras, recorda, instintivamente, a paternidade de Deus e as alvoradas divinas da vida espiritual.
(FONTE : Livro "Crônicas de além-túmulo", cap. 22)
Senhor, ensina-nos a orar sem esquecer o trabalho;
A dar sem olhar a quem;
A servir sem perguntar "até quando?";
A sofrer, sem magoar, seja quem for;
A progredir sem perder a simplicidade;
A semear o bem sem pensar nos resultados;
A desculpar sem condições;
A marchar para frente sem contar os obstáculos;
A ver sem malícia;
A escutar sem corromper os assuntos;
A compreender o próximo sem exigir entendimento;
A respeitar os semelhantes sem reclamar consideração;
A dar o melhor de nós além da execução do próprio dever
Sem cobrar taxas de reconhecimento;
Senhor, fortalece em nós
A paciência para com as dificuldades dos outros
Assim como precisamos do paciência dos outros
Para com as nossas próprias dificuldades.
Ajuda-nos para que a ninguém façamos
Aquilo que não desejamos para nós.
Auxilia-nos, sobretudo,
A reconhecer que a nossa felicidade mais alta
Será invariavelmente aquela de cumprir-te os desígnios
Onde e como queiras
Hoje, agora e sempre.
(Emmanuel - pelo médium Francisco Cândido Xavier)
"Fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura."
(Rabindranath Tagore)
Era uma vez um rapaz que tinha muitos problemas. Constantemente, em suas orações ele pedia que Jesus viesse visitá-lo no seu sofrimento. Um dia, Jesus bateu à sua porta e ele, maravilhado, convidou-o a entrar, e Jesus sentou-se no sofá da sala.
Na mesinha de centro, encontrava-se uma Bíblia aberta no Salmo 91. Numa das paredes, estava pendurado um bordado com o Salmo 23 e na outra um quadro da Santa Ceia.
“Senhor Jesus” – disse o jovem – “em primeiro lugar gostaria de dizer que é uma honra recebe-lo em minha casa, e conforme o Senhor deve saber, estou passando por algumas dificuldades e preciso muito da sua ajuda”.
“Filho,” - interrompeu Jesus – “antes de conversarmos sobre os seus pedidos, gostaria de conhecer sua casa. Onde é que você dorme?”
No mesmo instante o rapaz se lembrou que guardava no quarto umas revistas terríveis e se apressou em dar uma desculpa:
“Não Jesus, lá não! Meu quarto não está arrumado!”
Então Jesus falou: “Bem, e a cozinha, posso conhecer sua cozinha?”
O rapaz lembrou que na cozinha havia algumas garrafas de bebida que ele não gostaria que Jesus visse.
“Senhor, desculpe, mas prefiro que não” – respondeu o rapaz – “minha cozinha está vazia, não tem nada de bom para lhe oferecer.”
Neste instante, um barulho forte interrompe a conversa.
Era alguém que batia furiosamente na porta. O rapaz se levantou assustado e foi ver quem era. Abriu a porta meio assustado e viu que era o diabo.
“Sai da frente que eu quero entrar” - falou asperamente o tentador.
“De jeito nenhum” – respondeu o rapaz, e com muita dificuldade, conseguiu empurrar o diabo e fechar a porta.
Cansado, o rapaz voltou para a sala e continuou:
“Então, Jesus” – disse ele, “como eu estava falando com o Senhor, estou precisando de tantas coisas...”
Mais uma vez as batidas furiosas retornam, agora vindas da janela do quarto.
O rapaz correu para ver o que era e ao abrir, viu novamente o diabo.
“Agora não tem jeito, eu vou entrar” – disse o inimigo.
E mais uma vez o rapaz se debateu com ele e conseguiu fechar a a janela do quarto.
“Senhor” – disse ele voltando à sala – “desculpe a interrupção, mas conforme lhe dizia...”
Outra vez, agora nos fundos da casa, se ouviu um barulho, como se quisessem arrombar a porta. Vieram os gritos: “Eu quero entrar!”
O rapaz lutou com ele e conseguiu mantê-lo fora de casa.
Ao voltar disse: “não entendo, o Senhor está na minha casa e o diabo insiste em entrar?”
Jesus respondeu: “Sabe o que é, meu filho? É que da sua casa você só me deu a sala.”
O rapaz humildemente entendeu a lição de Jesus e fez uma limpeza imediata no interior da casa para entregá-la ao Senhor. Após a faxina, o diabo bateu mais uma vez à porta. O rapaz olhou para Jesus sem entender, quando Jesus disse: “Deixa que eu vou atender.”
Quando o diabo viu que era Jesus que estava naquela casa, disse: “Desculpe, foi engano” e saiu rápido, desaparecendo.
Muitas vezes, é assim que acontece com o nosso coração, que deve ser a casa de Jesus. Mas inadvertidamente, entregamos a Ele só uma parte de nossa casa espiritual, ou seja, apenas a sala, que é o local das aparências. Ficando os nossos interiores que são o quarto com suas dúvidas, a cozinha em seus descasos, o banheiro, o quintal e a varanda com seus medos. Então lutamos contra os visitantes que querem habitar aqueles locais que lhes são propícios para o desenvolvimento de suas ações.
Infelizmente, a maioria de nós entrega ai Senhor apenas parte da propriedade que deveria ser totalmente Dele, que é o nosso coração.
Não esqueçam do que nos disse o Mestre: O Pai habita em vós. Tu é a casa de Deus. Os olhos do Pai passeiam por toda a Terra e todo o Universo para se mostrar forte e defender a casa daqueles cujo coração é inteiramente Seu.
"Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização."
- Martin Luther King -
Contam as lendas que, quando foi concluída a Criação, as estrelas vieram visitar a Terra.
A estrela AMARELA, simbolizando as riquezas, visitou todos os recantos e voltou ao veludo escuro da noite, tomando seu lugar no firmamento. A estrela AZUL, simbolizando os rios e os mares, igualmente deu um giro em todas as profundezas e retornou.
As demais estrelas simbolizando o restante da Natureza, fizeram o mesmo, e todas se engastaram nos lugares definitivos onde deveriam permanecer para sempre. Todas voltaram, menos uma, por discreta determinação do rei do firmamento. E quando perceberam a sua ausência, os demais astros buscaram-na aflitos, de longe. Então perceberam, entre os sofredores e necessitados do mundo, a sua luz faiscando em tom VERDE. Por isso, é que a ESPERANÇA nunca abandona a vida.
Através de uma lenda, os poetas encontraram uma maneira de falar da ESPERANÇA.
Quando a noite escura do desalento invadir a nossa vida, lembremos a suave luz da ESPERANÇA que não nos deixa a sós, e recobremos o passo, no compasso da harmonia.
Quando sentirmos os ferimentos da cruz de espinhos a vergastar nossos ombros, permitamos que o brilho inapagável da ESPERANÇA nos console.
Se o véu escuro da morte se estender sobre os olhos físicos dos seres amados, lembremos que a imortalidade, mensageira da ESPERANÇA, vem lhes descortinar horizontes novos, no além túmulo.
Ainda que os dias de sofrimento pareçam não ter fim...
Ainda que a enfermidade anuncie que veio para ficar...
Ainda que os amigos abandonem os nossos passos, deixando-nos caminhar a sós...
Ainda que tenhamos a impressão de que o Pai Divino nos esqueceu, lembremos da sublime lâmpada da ESPERANÇA, e permitamos que ela ilumine a nossa alma, plenificando-a com suave claridade, anunciando um novo alvorecer.
Lembremos sempre que, por mais escura e longa que seja a noite, o Sol sempre volta a brilhar, e com ele, novas oportunidades de construirmos a nossa felicidade.
Para tanto, devemos permitir que a ESPERANÇA siga conosco como portadora da chave que abre a aurora e vence o crepúsculo.
A ESPERANÇA se apresenta em nossas vidas de várias maneiras:
Pode estar presente num sorriso...
Num olhar de ternura... num aperto de mão... num afago...
Podemos encontrá-la, ainda, na suave brisa de uma manhã de Sol...
Na serenidade das gotas de chuva, caindo devagar...
No cinza escuro da paisagem crestada pela neve a anunciar que, em breves dias, tudo estará reverdecido novamente, sob os diversos matizes de cores e perfumes, mostrando que a ESPERANÇA está presente, e jamais nos abandona.
(Baseado no capítulo IX do livro "Estesia", pág. 30 da Livraria Espírita Editora Alvorada - LEAL)
"Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca.
- William Jennings Bryan -
Quando vemos, em alto mar, uma embarcação navegando ao sabor do vento, o que nos vem à mente?
Por suposição, diremos que é um barco à deriva, sem mãos fortes para conduzir o leme.
Todavia, quando o timoneiro assume o seu posto a embarcação segue o rumo que ele definir.
Assim também acontece com a barca das nossas existências.
Se deixamos que os ventos e tempestades definam os rumos que deveremos seguir, fatalmente teremos surpresas desagradáveis pela frente.
Se, ao contrário, seguramos o leme e conduzimos a barca guiando-nos pela bússola da razão e dos sentimentos nobres, certamente chegaremos a um porto seguro.
Há pessoas que navegam os mares da existência sem se preocuparem com a direção que tomam. São facilmente empurrados pelos ventos da cobiça, da ambição desmedida, dos prazeres enganadores, da vaidade sem limites.
E, quando sentem que perderam o rumo, se desesperam e se revoltam contra Deus e contra todos, tentando justificar a falta de cuidados e de previdência.
Há os que se dizem fracos para conduzir o leme e deixam que o barco adentre a neblina escura da depressão, da melancolia, do desespero e, por fim, mergulham nos abismos do suicídio.
Esses terão que emergir, mais cedo ou mais tarde, suportando as dores dos ferimentos graves provocados pela queda infeliz e inconseqüente.
Há, ainda, aqueles que querem chegar ao destino em primeiro lugar. Atropelam os demais navegadores, destroem suas barcas e não se importam com o que venha a acontecer com os demais.
Queimam o combustível da saúde, usam de má fé para conseguir a melhor posição, penhoram a dignidade por um lugar de destaque. Esses não vão muito longe sem graves prejuízos.
Mas, nesse grande mar da vida, há navegantes previdentes e sábios que seguem com cuidado e perseverança. O barco das suas existências jamais fica à deriva.
Resistem com bravura às tempestades mais ameaçadoras e não se deixam levar pelos ventos fortes do desespero.
Sabem que cada um deve conduzir sua embarcação e ao mesmo tempo ajudar aos demais navegantes para que todos cheguem bem ao destino.
PENSE NISSO!
Você está no leme.
Você, e somente você, conduz a sua embarcação.
Seus atos lhe pertencem, seus vícios, suas virtudes...
O barco da sua vida seguirá pela rota que você traçar.
E jamais se esqueça de que a sua felicidade espera por você, em algum porto de luz que lhe foi destinado pelo grande timoneiro de todas as almas, que é o Criador do Universo.
(FONTE: Momento Espírita)
"A autoridade e a obediência não constituem coisas necessárias, apenas, mas são também coisas úteis. Alguns seres, quando nascem, estão destinados a obedecer; outros a mandar."
- Aristóteles -
Quanto pesa a responsabilidade de um cargo?
Observa-se que muitos perseguem nomeações para cargos e disputam, com ardor, lugares que lhes conferirão autoridade sobre outros.
Contudo, quando assumem postos de comando se esquecem dos objetivos reais para os quais foram ali colocados, passando a agir em seu próprio favor.
Tal posição nos recorda a história de um homem que foi nomeado mandarim, uma espécie de conselheiro na China.
Envaidecido com a nova posição, pensou em mandar confeccionar roupas novas. Seria um grande homem, agora. Importante.
Um amigo lhe recomendou que buscasse um velho sábio, um alfaiate especial que sabia dar a cada cliente o corte perfeito.
Depois de cuidadosamente anotar todas as medidas do novo mandarim, o alfaiate lhe perguntou há quanto tempo ele era mandarim. A informação era importante para que ele pudesse dar o talhe perfeito à roupa.
Ora, perguntou o cliente: "O que isso tem a ver com a medida do meu manto?" Paciente, o alfaiate explicou:
“A informação é preciosa. É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que anda com o nariz erguido, a cabeça levantada. Nesse caso, preciso fazer a parte da frente maior que a de trás.”
“Depois de alguns anos, está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos de sua experiência. Torna-se sensato e olha para diante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito em seguida. Para esse costuro um manto de modo que fiquem igualadas as partes da frente e a de trás.”
“Mais tarde, sob o peso dos anos, o corpo está curvado pela idade e pelos trabalhos exaustivos, sem se falar na humildade que adquiriu pela vida de esforços. É o momento de eu fazer o manto com a parte de trás mais longa. Portanto, preciso saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente perfeitamente.”
O homem saiu da loja pensando muito mais nos motivos que levaram seu amigo a lhe indicar aquele sábio alfaiate, e menos no manto que viera encomendar.
***
Cargos e funções são sempre responsabilidades que nos são oferecidas pela divindade para nosso progresso. Não há motivo para vaidade, acreditando-se superior ou melhor que os outros.
Quando Pilatos assegurou a Jesus que tinha o poder de vida e morte, e que em suas mãos estava o destino de suas horas seguintes, o Mestre alertou-o dizendo: "Procurador, a autoridade de que desfrutas não é tua; foi-te concedida e poderá ser-te retirada."
De fato isso veio a acontecer. Apenas poucos anos após a morte de Jesus, o poder de Roma retirou do procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, toda a autoridade. Ele perdeu o cargo, o prestígio, e tudo que acreditava fosse eterno em suas mãos.
***
Toda autoridade deve se centralizar no amor e na vida exemplar, a fim de se fazer real.
A autoridade de que nos vejamos investidos deve ser exercida sem jamais ferir a justiça.
No desempenho dos nossos deveres, recordemos que só uma autoridade é soberana: aquela que procede de Deus, por ser a única legítima.
(FONTE: Momento Espírita)
"Ser humilde com os superiores é uma obrigação, com os colegas uma cortesia, com os inferiores é uma nobreza."
- Benjamin Franklin –
"O orgulho que almoça vaidade janta desprezo."
- Benjamin Franklin -
Você já deve ter ouvido muitas vezes a palavra humildade, não é mesmo?
Essa palavra é muito usada, mas nem todas as pessoas conseguem entender o seu verdadeiro significado.
O termo humildade vem de húmus, palavra de origem latina que quer dizer terra fértil, rica em nutrientes e preparada para receber a semente.
Assim, uma pessoa humilde está sempre disposta a aprender e deixar brotar no solo fértil da sua alma, a boa semente.
A verdadeira humildade é firme, segura, sóbria, e jamais compartilha com a hipocrisia ou com a pieguice.
A humildade é a mais nobre de todas as virtudes, pois somente ela predispõe o seu portador, à sabedoria real.
O contrário de humildade é orgulho, porque o orgulhoso nega tudo o que a humildade defende.
O orgulhoso é soberbo, julga-se superior e esconde-se por trás da falsa humildade ou da tola vaidade.
Alguns exemplos talvez tornem mais claras as nossas reflexões.
Quando, por exemplo, uma pessoa humilde comete um erro, diz: "eu me equivoquei", pois sua intenção é de aprender, de crescer. Mas quando uma pessoa orgulhosa comete um erro, diz: "não foi minha culpa", porque se acha acima de qualquer suspeita.
A pessoa humilde trabalha mais que a orgulhosa e por essa razão tem mais tempo. Uma pessoa orgulhosa está sempre "muito ocupada" para fazer o que é necessário. A pessoa humilde enfrenta qualquer dificuldade e sempre vence os problemas.
A pessoa orgulhosa dá desculpas, mas não dá conta das suas obrigações e pendências. Uma pessoa humilde se compromete e realiza.
Uma pessoa orgulhosa se acha perfeita. A pessoa humilde diz: "eu sou bom, porém não tão bom como eu gostaria de ser".
A pessoa humilde respeita aqueles que lhe são superiores e trata de aprender algo com todos. A orgulhosa resiste àqueles que lhe são superiores e trata de pôr-lhes defeitos.
O humilde sempre faz algo mais, além da sua obrigação. O orgulhoso não colabora, e sempre diz: "eu faço o meu trabalho".
Uma pessoa humilde diz: "deve haver uma maneira melhor para fazer isto, e eu vou descobrir". A pessoa orgulhosa afirma: "sempre fiz assim e não vou mudar meu estilo".
A pessoa humilde compartilha suas experiências com colegas e amigos, o orgulhoso as guarda para si mesmo, porque teme a concorrência.
A pessoa orgulhosa não aceita críticas, a humilde está sempre disposta a ouvir todas as opiniões e a reter as melhores.
Quem é humilde cresce sempre, quem é orgulhoso fica estagnado, iludido na falsa posição de superioridade.
O orgulhoso se diz céptico, por achar que não pode haver nada no universo que ele desconheça, o humilde reverencia ao criador, todos os dias, porque sabe que há muitas verdades que ainda desconhece.
Uma pessoa humilde defende as idéias que julga nobres, sem se importar de quem elas venham. A pessoa orgulhosa defende sempre suas idéias, não porque acredite nelas, mas porque são suas.
Enfim, como se pode perceber, o orgulho é grilhão que impede a evolução das criaturas, a humildade é chave que abre as portas da perfeição.
PENSE NISSO!
Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso?
É porque foi humilde o bastante para colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios.
Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, se quisesse ficar acima de todos os rios, não seria mar, seria uma ilha. E certamente estaria isolado.
PENSE NISSO!
No começo, o mundo era todo pantanoso e cheio d'água, um lugar inóspito, sem nenhuma serventia. Acima dele havia o Céu, onde viviam Olorum e todos os orixás, que às vezes desciam para brincar nos pântanos insalubres. Desciam por teias de aranha penduradas no vazio. Ainda não havia terra firme, nem o homem existia.
Um dia Olorum chamou à sua presença Orixanlá, o Grande Orixá. Disse-lhe que queria criar terra firme lá embaixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa.
Para a missão, deu-lhe uma concha marinha com terra, uma pomba e uma galinha com pés de cinco dedos. Orixanlá desceu ao pântano e depositou a terra da concha. Sobre a terra pôs a pomba e a galinha e ambas começaram a ciscar. Foram assim espalhando a terra que viera na concha até que terra firme se formou por toda parte.
Orixanlá voltou a Olorum e relatou-lhe o sucedido. Olorum enviou um camaleão para inspecionar a obra de Oxalá e ele não pôde andar sobre o solo que ainda não era firme. O camaleão voltou dizendo que a Terra era ampla, mas ainda não suficientemente seca.
Numa segunda viagem o camaleão trouxe a notícia de que a Terra era ampla e suficientemente sólida, podendo-se agora viver em sua superfície. O lugar mais tarde foi chamado Ifé, que quer dizer ampla morada. Depois Olorum mandou Orixanlá de volta à Terra para plantar árvores e dar alimentos e riquezas ao homem. E veio a chuva para regar as árvores.
Foi assim que tudo começou. Foi ali, em Ifé, durante uma semana de quatro dias,
que Orixá Nlá criou o mundo e tudo o que existe nele.
[ Lenda 285 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oxalá foi consultar Ifá, para saber como melhor tocar a vida. Os adivinhos recomendaram que fizesse ebó, que oferecesse aos deuses uma cabaça de sal e um pano branco. Assim Oxalá não passaria por transtornos e não sofreria desonras e outras ofensas morais na Terra.
Dando de ombros ao conselho, Oxalá foi dormir sem cumprir o recomendado. De noite Exu entrou na casa de Oxalá. Ele trazia uma cabaça de sal e a amarrou nas costas de Oxalá.
Na manhã seguinte, Oxalá despertou corcunda. Desde então tornou-se protetor dos corcundas, dos albinos e toda sorte de aleijados. Mas foi para sempre proibido de consumir sal.
[ Lenda 293 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Há muito tempo, a Morte instalou-se numa cidade é dali não quis mais ir embora.
A mortandade que ela provocava era sem tamanho e todas as pessoas do lugar estavam apavoradas. A cada instante tombava mais um morto. Para a Morte não fazia diferença alguma se o defunto fosse homem ou mulher, se o falecido fosse velho, adulto ou criança.
A população, desesperada e impotente, recorreu a Oxalá, rogando-lhe que ajudasse o povo daquela infeliz cidade. Oxalá, então, mandou que fizessem oferendas, que ofertassem uma galinha preta e o pó de giz efum.
Fizeram tudo como ordenava Oxalá. Com o efum pintaram as pontas das penas da galinha preta e em seguida a soltaram no mercado. Quando a Morte viu aquele estranho bicho, assustou-se e imediatamente foi-se embora, deixando em paz o povo daquela cidade.
Foi assim que Oxalá fez surgir a galinha d'angola. Desde então, as iaôs, sacerdotisas dos orixás, são pintadas como ela para que todos se lembrem da sabedoria de Oxalá e da sua compaixão.
[ Lenda 292 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Um dia Oxalufã, que vivia com seu filho Oxaguiã, velho e curvado por sua idade avançada, resolveu viajar a Oyó em visita a Xangô, seu outro filho. Foi consultar um babalawo para saber acerca do passeio.
O adivinho recomendou-lhe não seguir viagem, pois a jornada seria desastrosa e poderia acabar muito mal. Mesmo assim, Oxalufã, por teimosia, resolveu não renunciar à sua intenção. O adivinho aconselhou-o então a levar consigo três panos brancos, limo-da-costa e sabão da costa. E disse a Oxalá ser imperativo tudo aceitar com calma e fazer tudo o que lhe pedissem ao longo da estrada. Com tal postura talvez pudesse não perder a vida no caminho.
Em sua caminhada, Oxalufã encontrou Exu três vezes. Três vezes Exu solicitou ajuda ao velho Rei para carregar seu fardo pesadíssimo de dendê, cola e carvão, o qual Exu acabou, nas três vezes, derrubando em cima de Oxalufã. Três vezes Oxalufã ajudou Exu a carregar seus fardos sujos. E por três vezes Exu fez Oxalufã sujar-se de azeite de dendê, de carvão, e outras substâncias enodoantes.
Três vezes Oxalufã ajudou Exu. Três vezes suportou as armadilhas de Exu. Três vezes foi Oxalufã ao rio mais próximo lavar-se e trocar as vestes.
Finalmente chegou Oxalá à cidade de Oyó. Na estrada viu um cavalo perdido, que ele reconheceu como o cavalo que havia presenteado a Xangô. Tentou amansar o animal para amarrá-lo e devolvê-lo ao amigo. Mas nesse momento chegaram alguns soldados do rei à procura do animal perdido. Viram Oxalufã com o cavalo e pensaram tratar-se do ladrão do animal. Maltrataram e prenderam Oxalufã.
Sempre calado, o orixá deixou-se levar prisioneiro. Magoado e desgostoso foi arrastado ao cárcere sem comiseração. O tempo passou e Oxalufã continuava preso e sem direito de defesa. Humilhado, decidiu que aquele povo presunçoso e injusto merecia uma lição.
E o velho orixá usou de seus poderes e vingou-se de Oyó. Assim, Oyó viveu por longos sete anos a mais profunda seca. As mulheres e os campos tornaram-se estéreis e muitas doenças incuráveis assolaram o reino.
O rei Xangô, em desespero, consultou o babalawo da corte e soube que um velho sofria injustamente como prisioneiro, pagando por um crime que não cometera. Disse-lhe também que o velho nunca havia reclamado, mas que sua vingança tinha sido a mais terrível.
Xangô correu imediatamente para a prisão. Para seu espanto, o velho aprisionado era Oxalufã. Xangô ordenou que trouxessem água do rio para lavar o rei, água limpa e fresca das fontes para banhar o velho orixá. Que lavassem seu corpo e os untassem com limo-da-costa. Que providenciassem os panos mais alvos para envolvê-lo. O rei de Oyó mandou seus súditos vestirem-se de branco também. E determinou que todos respeitassem em silêncio. Pois era preciso, respeitosamente, pedir perdão a Oxalá.
Xangô vestiu-se também de branco e nas suas costas carregou o velho rei. E o levou para as festas em sua homenagem e todo o povo saudava Oxalá e todo o povo saudava Airá, o Xangô Branco.
Depois Oxalufã voltou para casa e Oxaguiã ofereceu um grande banquete em celebração pelo retorno do pai. Terminadas as homenagens, Oxalá partiu de volta para cas. Caminhava lentamente, apoiando-se no opaxorô, comprido báculo de lenho que o ajuda a se locomover. Seus acompanhantes cobriam-se com o branco alá, alvo pálio que protege o velho orixá da luz e do calor do sol.
Quando Oxalufã chegou em casa, Oxaguiã realizou muitos festejos para celebrar o retorno do velho pai.
[ Lenda 299 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra. Ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. Gostava de guerrear e de comer. Gostava muito de uma mesa farta. Comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado. Jamais se sentava para comer se faltasse inhame. Seus jantares estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame.
Elejigbô, o rei de Ejigbô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra.
Oxalá então consultou os babalawos, fez suas oferendas a Exu e trouxe para a humanidade uma nova invenção. O reo de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pôde se fartar e fazer todas as suas guerras.
Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de “Orixá Comedor de Inhame Pilado”, o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.
[ Lenda 278 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Ajagunã nasceu de Obatalá. Só de Obatalá. Nasceu num igbim, num caramujo. Logo que nasceu, Ajagunã se revoltou. Ajagunã não tinha ori, não tinha cabeça e andava pela vida sem destino certo.
Um dia, quase louco, encontrou Ori na estrada e Ori fez para Ajagunã uma cabeça branca. Era de inhame pilado sua cabeça. Mas a cabeça de inhame esquentava muito e Ajagunã sofria torturantes dores de cabeça.
De outra feita, lá ia pela estrada Ajagunã padecendo de seus males, quando se encontrou com Iku, a Morte. Iku se pôs a dançar para Ajagunã e se ofereceu para dar a ele outro ori.
Oxaguiã, com medo, recusou prontamente, mas era tão insuportável o calor que ele sentia que não pôde recusar por muito tempo a oferta. Iku prometeu-lhe um ori negro. Iku ofereceu-lhe um ori frio. Ele aceitou.
A sorte de Ajagunã contudo não mudou. Era fria e dolorida essa cabeça negra. Mas pior era o terror que não o abandonava de sentir-se perseguido por mil sombras. Eram as sombras da morte em sua cabeça fria.
Então surgiu Ogum e deu sua espada a Ajagunã. E com a espada ele afugentou a Morte e as suas sombras. Ogum fez o que pôde para socorrer o amigo, com a faca retirando o ori frio grudado no ori quente. Na operação de Ogum as duas cabeças se fundiram e o ori de Oxaguiã ficou azulado, um novo ori nem muito quente, nem muito frio.
Uma cabeça quente não funciona bem. Uma cabeça fria também não. Foi o que se aprendeu com a aventura de Ajagunã. Finalmente, a vida de Ajagunã se normalizou. Com a ajuda de Ogum, mais uma vez, o orixá aprendeu todas as artes bélicas e assim venceu na vida muitas batalhas e guerras.
Hoje o seu nome, como o nome de Ogum, é relembrado entre os dos mais destemidos generais. E foi assim que Oxaguiã foi chamado Ajagunã, título do mais valente entre todos os guerreiros.
[ Lenda 279 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Olodumare dividiu com seus filhos orixás a difícil incumbência de governar o mundo. Ajagunã também teve seu encargo, seu posto, seu oiê. Foi-lhe destinado o domínio do progresso.
Mas, em vez do progresso, ele plantou o conflito, a discórdia e a revolução. Com ele a humanidade conheceu de perto a revolução. Por vontade de Ajagunã, a cizânia se fez entre homens e nações.
Governando um grande território africano, Ajagunã guerreava sempre com os seus vizinhos. Mas os vizinhos iam a Olofim-Olodumare e protestavam pela agressividade de Oxaguiã. Diante de tantos protestos, o Ser Supremo o chamou e repreendeu por seus exageros. Ajagunã contestou dizendo que seu pai vivia confortavelmente, sempre sentado na mesma cômoda posição, não se dando conta do furor transformador que a discórdia de Ajagunã gerava na Terra.
Ajagunã seguiu guerreando pelo mundo, fazendo do cotidiano dos povos um pandemônio, alastrando a arruaça, o tumulto, a balbúrdia e o litígio. Até que um dia Olofim tirou-lhe o reino e o baniu para um distante continente.
No exílio, Ajagunã encontrou um povo que vivia em paz e isso enlouqueceu Ajagunã. Rapidamente criou discórdia entre aquelas tribos e a guerra instalou-se no país.
Tanta guerra fez que aquela voltou a se espalhar mundo afora. Olodumare, alarmado, chamou o filho e pediu-lhe que repensasse sua forma de agir. Ajagunã disse-lhe que a discórdia era necessária para o progresso, somente daquela forma o ser humano criaria anseios de crescer e conquistar novos caminhos.
Sim, ele estava exercendo a função que o pai lhe atribuíra, defendeu-se. O Supremo Criador aceitou as explicações de Ajagunã. O mundo continuou a guerrear. O mundo continuou a progredir. Ajagunã não pára nem para descansar.
[ Lenda 281 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Odudua criou o mundo, Obatalá criou o ser humano. Obatalá fez o homem de lama, com corpo, peito, barriga, pernas, pés. Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos. Deu-lhe ossos, pele e musculatura. Fez os machos com pênis e as fêmeas com vagina, para que um penetrasse o outro e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela, inclusive o sangue. Olodumare pôs no homem a respiração e ele viveu. Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse a obra criadora de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e mulheres. Quando alguém está para nascer, vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças. Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno. Se Ajalá está bem, faz cabeças boas. Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas, passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer. Cada um escolhe o ori que vai ter na Terra. Lá escolhe uma cabeça para si. Cada um escolhe seu ori. Deve ser esperto, para escolher cabeça boa. Cabeça ruim é destino ruim, cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo o que é bom.
[ Lenda 272 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Obatalá reuniu as matérias necessárias à criação do homem e mandou convocar os seus irmãos orixás. Apenas Orunmilá compareceu. Por isso Obatalá o recompensou. Permitiu que apenas ele conhecesse os segredos da construção do homem. Revelou a Orunmilá todos os mistérios e os materiais usados na sua confecção.
Orunmilá tornou-se assim o pai do segredo, da magia e do conhecimento do futuro. Ele conhece as vontades de Obatalá e de todos os orixás envolvidas na vida dos humanos. Somente Orunmilá sabe de que modo foi feito cada homem, que venturas e que infortúnios foram usados na construção de seu destino.
[ Lenda 256 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Naquele tempo, não havia separação entre o Céu e a Terra. Foi quando Orunmilá teve oito filhos. O primeiro foi o rei de Ará, Alará. O segundo foi Ajeró, rei de Ijeró. O filho caçula foi Olouó, rei da cidade de Ouó.
Havia paz e fartura na Terra. Numa importante ocasião, quando Orunmilá celebrava um ritual, mandou chamar todos os seus filhos. Vieram os sete primeiros filhos de Orunmilá. Eles lhes prestaram homenagens, ofereceram-lhe sacrifícios, prostaram-se a seus pés batendo palmas, prostraram-se batendo pão, disseram as palavras de respeito. Menos Olouó.
Ele veio mas não deitou aos pés do pai, não fez oferendas, não o homenageou como devia.
“Por que não demonstras respeito por teu pai?”, perguntou Orunmilá. Olouó respondeu que seu pai tinha sandálias de precioso material, mas que ele também as tinha; que o pai usava roupas dos mais finos tecidos, mas que ele também as usava; que seu pai tinha cetro e tinha coroa e que ele os tinha também. Que um homem que usa uma coroa não deve se prostrar diante de outro, foi o que disse o filho ao pai.
Orunmilá se enfureceu, arrancou o cetro das mãos do filho e o atirou longe. Orunmilá retirou-se para o Orum, o Céu, e a desgraça de abateu sobre o Aiê, a Terra: fome, caos, peste e confusão. Parou de chover, plantas não cresciam e animais não procriavam, todos estavam em desespero.
Os homens ofereceram a Orunmilá toda sorte de sacrifícios, todos os cantos. Orunmilá aceitou as oferendas, mas a paz entre o Céu e a Terra estava definitivamente rompida. Os filhos de Orunmilá o procuraram no Orum e lhe pediram para retornar ao Aiê. Orunmilá entregou então a seus filhos dezesseis nozes de dendê e disse: “Quando tiverem problemas e desejarem falar comigo, consultem este Ifá”.
Orunmilá nunca mais veio ao Aiê, mas deixou o oráculo para que as pessoas possam recorrer a ele quando precisarem.Os filhos de Orunmilá eram assim chamados: Ocanrã, Ejioco, Ogundá, Irosum, Oxé, Obará, Odi, Ejiobê, Osá, Ofum, Ouorim, Ejila-Xeborá, Icá, Oturopon, Ofuncanrã e Iretê. São estes os nomes dos odus. São estes os filhos de Orunmilá.
Cada odu conhece um segredo diferente.
Um fala do nascimento, outro da morte;
Um fala de negócios, outro da fartura;
Um fala de guerras, outro de perdas;
Um fala de amizade, outro da traição;
Um fala da família, outro da amizade;
Um fala do destino, outro da sorte.
Cada odu conhece um segredo diferente. Desde então, quando alguém tem um problema, é o odu que indica o sacrifício apropriado. Orunmilá disse: “Quando tiverem problemas, consultem Ifá”.
Orunmilá nunca mais veio ao Aiê, mas deixou o oráculo para que as pessoas possam recorrer a ele quando precisarem.
[ Lenda 253 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Fazia muito tempo que Obatalá admirava a inteligência de Orunmilá. Em mais de uma ocasião Obatalá pensou em entregar a Orunmilá o governo do mundo. Pensou em entregar a Orunmilá o governo dos segredos, os segredos que governam o mundo e a vida dos homens. Mas quando refletia sobre o assunto acabava desistindo.
Orunmilá, apesar da seriedade de seus atos, era muito jovem para missão tão importante. Um dia, Obatalá quis saber se Orunmilá era tão capaz quanto aparentava e lhe ordenou que preparasse a melhor comida que pudesse ser feita.
Orunmilá preparou uma língua de touro e Obatalá comeu com prazer. Obatalá, então, perguntou a Orunmilá por qual razão a língua era a melhor comida que havia. Orunmilá respondeu:
“Com a língua se concede axé, se ponderam as coisas, se proclama a virtude, se exaltam as obras e com seu uso os homens chegam à vitória”.
Após algum tempo, Obatalá pediu a Orunmilá para preparar a pior comida que houvesse. Orunmilá lhe preparou a mesma iguaria. Preparou língua de touro. Surpreso, Obatalá lhe perguntou como era possível que a melhor comida que havia fosse agora a pior. Orunmilá respondeu:
“Porque com a língua os homens se vendem e se perdem. Com a língua se caluniam as pessoas, se destrói a boa reputação e se cometem as mais repudiáveis vilezas”.
Obatalá ficou maravilhado com a inteligência e precocidade de Orunmilá. Entregoi a Orunmilá nesse momento o governo dos segredos. Orunmilá foi nomeado babalawo, palavra que na língua dos orixás quer dizer pai do segredo. Orunmilá foi o primeiro babalawo.
[ Lenda 271 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
No princípio, quando não havia separação entre Céu e a Terra, Obatalá e Odudua viviam juntos dentro de uma cabaça. Viviam extremamente apertados um contra o outro. Odudua embaixo e Obatalá em cima.
Eles tinham sete anéis que pertenciam aos dois. À noite eles colocavam seus anéis. Aquele que dormia por cima sempre colocava quatro anéis e o que ficava por baixo colocava os três restantes.
Um dia Odudua, deusa da Terra, quis dormir por cima para poder usar nos dedos quatro anéis. Obatalá, o deus do Céu, não aceitou. Tal foi a luta que travaram os dois lá dentro que a cabaça acabou por se romper em duas metades. A parte inferior da cabaça, com Odudua, permaneceu embaixo, enquanto a parte superior, com Obatalá, ficou em cima, separando-se assim o Céu da Terra.
No início de tudo, Obatalá, deus do Céu, e Odudua, deusa da Terra, viviam juntos. A briga pelos anéis os separou e separou o Céu da Terra.
[ Lenda 245 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Olocum, a senhora do mar, e Olossá, a senhora do lago, andavam ambas muito preocupadas. As águas já não eram suficientes para suprir as necessidades do povo, que já padecia da sede provocada pela longa seca.
Olocum e Olossá foram aos pés de Orunmilá, que as aconselhou a fazer oferendas para que a abundância das águas retornasse. Era um sacrifício grande para ambas, mas Olocum cumpriu o recomendado. Olossá, porém, ofereceu seus sacrifícios incompletos.
E veio a chuva e choveu tanto que as águas já não cabiam no curso dos rios. Oxum, o rio, foi consultar Ifá para saber que destino dar ao curso de suas águas.
Oxum foi orientada por Ifá para procurar um lugar onde fosse bem recebida. Assim, Oxum reuniu as águas do rio e seguiu caminho. Encontrou a lagoa, encontrou ossá, e nela se precipitou, mas as águas da lagoa transbordaram. Deixou a lagoa e chegou ao mar, o ocum, e ali derramou todas as suas águas e o mar recebeu o rio Oxum sem transbordar.
Então todos os rios fizeram a mesma rota e encaminharam suas águas para o mar, o ocum. E Olossá teve que se conformar com o segundo posto.
Olocum fez corretamente o sacrifício. Olocum é a rainha de todas as águas.
[ Lenda 238 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Orum, o Sol, andava exausto. Desde a criação do mundo ele não tinha dormido nunca. Brilhava sobre a Terra dia e noite. Orum já estava a ponto de exaurir-se, de apagar-se.
Com seu brilho eterno, Orum maltratava a Terra. Ele queimava a Terra dia após dia. Já quase tudo estava calcinado e os humanos já morriam todos.
Os Orixás estavam preocupados e reuniram-se para encontrar uma saída. Foi Yemanjá quem trouxe a solução. Ela guardara sob as saias alguns raios do Sol. Ela projetou sobre a Terra os raios que guardara e mandou que o Sol fosse descansar, para depois brilhar de novo.
Os fracos raios de luz formaram um outro astro. O Sol descansaria para recuperar suas forças e enquanto isso reinaria Oxu, a Lua. Sua luz fria refrescaria a Terra e os seres humanos não pereceriam no calor.
Assim, graças a Yemanjá, o Sol pode dormir. À noite, as estrelas velam por seu sono, até que a madrugada traga outro dia.
[ Lenda 230 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Dia houve em que todos os deuses deveriam atender ao chamado de Olodumare para uma reunião. Yemanjá estava em casa matando um carneiro, quando Legba chegou para avisa-la do encontro. Apressada e com medo de atrasar-se e sem ter nada para levar de presente a Olodumare, Yemanjá carregou consigo a cabeça do carneiro como oferenda para o grande pai.
Ao ver que somente Yemanjá trazia-lhe um presente, Olodumare declarou:
“Awoyó ori dorí re”.
“Cabeça trazes, cabeça serás”.
Desde então Yemanjá é a senhora de todas as cabeças.
[ Lenda 226 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Quando Olodumare fez o mundo, deu a cada orixá um reino, um posto, um trabalho.
A Exu deu o poder da comunicação e a posse das encruzilhadas.
A Ogum deu o poder da forja, o comando da guerra e o domínio dos caminhos.
A Oxóssi ele entregou o patronato da caça e da fartura.
A Obaluayê deu o controle das epidemias.
Olodumare deu a Oxumarê o arco-íris e poder de comandar a chuva, que permite as boas colheitas e afasta da fome.
Xangô recebeu o poder do trovão e o império da lei.
Oiá-Iansã ficou com o raio e o reino dos mortos, enquanto Yewá foi governar os cemitérios.
Olodumare deu a Oxum o zelo pela feminilidade, riqueza material e fertilidade das mulheres. Oba ganhou o patronato da família e Nanã, a sabedoria dos mais velhos, que ao mesmo tempo é princípio de tudo, a lama primordial com que Obatalá modela os homens.
A Oxalá deu Olodumare o privilégio de criar o homem, depois que Odudua fez o mundo. E a criação se completou com a obra de Oxaguiã, que inventou a arte de fazer os utensílios, a cultura material.
Para Yemanjá, Olodumare destinou os cuidados de Oxalá. Para a casa de Oxalá foi Iemanjá cuidar de tudo: da casa, dos filhos, da comida, do marido, enfim.
Yemanjá nada mais fazia que trabalhar e reclamar. Se todos tinham algum poder no mundo, um posto pelo qual recebiam sacrifício e homenagens, por que ela deveria ficar ali em casa feito escrava?
Yemanjá não se conformou. Ela falou, falou e falou nos ouvidos de Oxalá. Falou tanto que Oxalá enlouqueceu. Seu ori, sua cabeça, não agüentou o falatório de Iemanjá. Iemanjá deu-se então conta do mal que provocara e tratou de Oxalá até restabelecê-lo. Cuidou de seus ori enlouquecido, oferecendo-lhe água fresca, obis deliciosos, apetitosos pombos brancos, frutas dulcíssimas. E Oxalá ficou curado.
Então, com o consentimento de Olodumare, Oxalá encarregou Yemanjá de cuidar do ori de todos os mortais. Yemanjá ganhara enfim uma missão tão desejada. Agora ela era senhora das cabeças.
[ Lenda 237 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Olodumare-Olofim vivia só no Inifinito, cercado apenas de fogo, chamas e vapores, onde quase nem podia caminhar. Cansado desse seu universo tenebroso, cansado de não ter com quem falar, cansado de não ter com quem brigar, decidiu pôr fim àquela situação.
Libertou as suas forças e a violência delas fez jorrar uma tormenta de águas. As águas debateram-se com rochas que nasciam e abriram no chão profundas e grandes cavidades. A água encheu as fendas ocas, fazendo-se os mares e oceanos, em cujas profundezas Olocum foi habitar.
Do que sobrou da inundação se fez a terra. Na superfície do mar, junto à terra, ali tomou seu reino Yemanjá, com suas algas, e estrelas do mar, peixes, corais, conchas, madrepérolas.
Ali nasceu Yemanjá em prata e azul, coroada peloa arco-íris de Oxumarê. Olodumare e Yemanjá, a mãe dos orixás, dominaram o fogo no fundo da Terra e o entregaram ao poder de Aganju, o mestre dos vulcões, por onde ainda respira o fogo aprisionado.
O fogo que se consumia na superfície do mundo eles apagaram e com suas cinzas Orixá Oco fertilizou os campos, propiciando o nascimento das ervas, frutos, árvores, bosques, florestas, que foram dados aos cuidados de Ossanhe.
Nos lugares onde as cinzas foram escassas, nasceram os pântanos e nos pântanos, a peste, que foi doada pela mãe dos orixás ao filho Omolu.
Yemanjá encantou-se com a Terra e a enfeitou com rios, cascatas e lagoas. Assim surgiu Oxum, dona das águas doces. Quanto tudo estava feito e cada natureza se encontrava na posse de um dos filhos de Yemanjá, Obatalá, respondendo diretamente às ordens de Olorum, criou o ser humano. E o ser humano povoou a Terra. E os orixás pelos humanos foram celebrados.
[ Lenda 220 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Um dia, os Ibejis brincavam numa cachoeira e um deles se afogou. O Ibeji que ficou começou a definhar, tão grandes eram a tristeza e solidão, melancólico e sem interesse pela vida.
Foi então a Orunmilá e suplicou que Orunmilá trouxesse o irmão de volta. Que Orunmilá os reunisse de novo, para que brincassem juntos como antes. Orunmilá não podia ou não queria fazer tal coisa, mas transformou a ambos em imagens de madeira e ordenou que ficassem juntos para sempre.
Nunca mais cresceriam, não se separariam. São dois gêmeos-meninos brincando eternamente, são crianças.
[ Lenda 214 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oiá andava pelo mundo disfarçada de novilha. Um dia Oxóssi a viu sem pele e se apaixonou. Casou-se com Oiá e escondeu a pele da novilha, para ela não fugir. Oiá teve dezesseis filhos com Oxóssi
Oxum, que era a primeira esposa de Oxóssi e que não tinha filhos, foi quem criou todos os filhos de Oiá.
O primeiro a nascer chamou-se Togum. Depois nasceram os gêmeos, os Ibejis, e depois deles, Idoú.
Nasceu depois a menina Alabá, seguida do menino Odobé. E depois os demais filhos de Oiá e Oxóssi. Os meninos pareciam-se com o pai, as meninas, com a mãe.
Oiá tinha os filhos que Oxum criava e assim viviam na casa de Oxóssi.
Um dia as duas mães se desentenderam. Oxum mostrou a Oiá onde estava sua pele. Oiá recuperou a pele de novilha, reassumiu sua forma natural e fugiu.
[ Lenda 213 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oxum queria um filho e pediu para Orunmilá. Ele ordenou-lhe que fizesse sacrifício de 2 carneiros, 2 cabritos e 2 galos, de 2 pombos, duas roupas e 2 sacos de búzios.
Quando Oxum deu à luz, não era um nem eram dois. Oxum teve 3 filhos.
Mas ela não podia criar as 3 crianças e mandou embora o mais novo dos irmãos para poder criar os outros dois, Taió e Caiandê. Idoú, o irmão rejeitado, não gostou de sua sorte e veio viver na cabeça dos irmãos. Vivia ora no ori de Taió, ora no ori de Caiandê.
Idoú atormentava os gêmeos sem sossego. Os Ibejis vivam brigando.
Oxum estava enlouquecida com as brigas dos meninos. Foi consultar Orunmilá e ele viu a presença de Idoú. Ele deu à mãe nove espelhos para que mirasse os filhos e visse em qual dos dois vivia o egum de Idoú.
Oxum mirou um deles e viu quatrocentos filhos. Mirou no segundo e não viu nada. Um deles teve que morrer para proteger o outro.
Mas o gêmeo que sobreviveu não suportava a ausência do irmão. Ele abriu a sepultura e retirou o corpo do irmão. Porém o menino morto não se movia, por mais que o irmão vivo o chamasse ele não respondia, não o acompanhava, não o queria.
O irmão vivo não desistiu do companheiro e amarrou o irmão morto no seu próprio corpo. Desde então eles passeiam juntos, atados um no outro. Quando eles passam alegres, discutindo, o povo diz:
“Olha os Ibejis, olha os meninos gêmeos da Oxum”.
[ Lenda 215 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oxum, filha de Orunmilá, casou-se com Xangô e foi viver em seu palácio. Logo Xangô percebeu o desinteresse de Oxum em cuidar dos afazeres domésticos.
Oxum vivia preocupada apenas com suas jóias e caprichos. Xangô se aborreceu e mandou prendê-la numa torre. Xangô voltou a ser livre para gozar a vida.
Exu viu a situação de Oxum e foi contar para seu pai Orunmilá. Fazendo Exu seu mensageiro, Orunmilá mandou que ele soprasse um pó na cabeça de Oxum. Feito isso, Oxum transformou-se em um pombo, ganhando a liberdade e voltando para a casa paterna. Voltou para suas jóias e caprichos.
[ Lenda 193 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Um dia, Orunmilá saiu de seu palácio para dar um passeio acompanhado de todo o seu séqüito. Em certo ponto deparou com outro cortejo, do qual a figura principal era uma mulher muito bonita. Orunmilá ficou impressionado com tanta beleza e mandou Exu, seu mensageiro, averiguar quem era ela. Exu apresentou-se ante a mulher com todas as reverências e falou que seu senhor, Orunmilá, gostaria de saber seu nome. Ela disse que era Yemanjá, rainha das águas e esposa de Oxalá.
Exu voltou à presença de Orunmilá e relatou tudo o que soubera da identidade da mulher. Orunmilá, então, mandou convidá-la ao seu palácio, dizendo que desejava conhecê-la. Yemanjá não atendeu de imediato ao convite, mas um dia foi visitar Orunmilá. Ninguém sabe ao certo o que se passou no palácio, mas o fato é que Yemanjá ficou grávida após a visita a Orunmilá. Yemanjá deu à luz uma linda menina.
Como Yemanjá tivera muitos filhos com seu marido, Orunmilá enviou Exu para comprovar se a criança era mesmo filha dele. Ele devia procurar sinais no corpo. Se a menina apresentasse alguma marca, mancha ou caroço na cabeça seria filha de Orunmilá e deveria ser levada para viver com ele.
Assim foi atestado, pelas marcas de nascença, que a criança mais nova de Yemanjá era de Orunmilá. Foi criada pelo pai, que satisfazia todos os seus caprichos. Por isso cresceu cheia de vontades e vaidades. O nome dessa filha é Oxum.
[ Lenda 186 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Obatalá, o Senhor do Pano Branco, aprendeu com Orunmilá a arte da adivinhação. Aprendeu o oráculo dos obis e dos búzios. A adivinhação com o opelê, contudo, Orunmilá jamais ensinou para ninguém. Só os babalawo podem jogar com o opelê, a cadeia de Ifá.
Mas muitas pessoas queriam aprender com Obatalá a arte de ler o destino nos búzios. Obatalá dizia que seu conhecimento era resultado da confiança que Orunmilá depositara nele e portanto negava-se a passar adiante essa arte.
Entre os que queriam tal conhecimento estava Oxum, a bonita esposa de Xangô. Oxum pediu muitas vezes para Obatalá ensinar-lhe o conhecimento de Ifá. Mesmo estando muito atraído pela bela Oxum, Obatalá recusou-se a ensiná-la.
Um dia Obatalá saiu da cidade e foi banhar-se num rio próximo. Deixou sua roupa sobre a moita e foi para a água. Enquanto Obatalá se banhava, Exu, sempre atento às chances de desarrumar as coisas, aproximou-se da margem do rio. Ele viu as roupas brancas sobre o arbusto e as reconheceu como sendo de Obatalá. Pondo as mãos em concha sobre a boca, gritou zombeteiro:
“O Senhor do Pano Branco ainda é senhor quando está sem a roupa?”
Exu pegou as roupas de Obatalá e foi-se embora. Foi dançando alegre e feliz com sua brincadeira. Quando Obatalá saiu da água, viu-se sem as suas imaculadas vestes brancas. Como faria para voltar para a cidade assim? Se aquela situação era humilhante para qualquer um, que dirá para Obatalá. Obatalá andando nu? Obatalá ficou ali angustiado, sem saber o que fazer.
Oxum, que vinha andando pela trilha em direção ao rio, viu Obatalá naquele estado e logo perguntou-lhe o que havia acontecido. Ele contou tudo. Oxum lhe disse então que iria até Exu para trazer as roupas de volta.
Obatalá avisou que ninguém conseguia lidar com Exu, mas Oxum insistiu que era capaz de dobrar o espertalhão. Em troca, porém, ela exigiu os conhecimentos da adivinhação. Ele negou e ela insistiu. Oxum mostrou que ele não tinha saída. Como Obatalá ia andar nu por aí? Que vergonha! Que falta de decoro! Um rei nu?
Obatalá concordou. Fizeram um trato. Oxum foi à procura de Exu e finalmente o encontrou numa encruzilhada, comendo seus ebós. Quando ele a viu, ficou endoidecido por sua beleza e, porque Exu é como é, tentou imediatamente ter relações sexuais com ela. Oxum rejeitou Exu e exigiu as roupas que ele roubara. Exu só pensava em deitar-se com Oxum e não queria discutir outra coisa.
Até que finalmente eles fizeram um acordo. Oxum deitou-se com Exu e em troca recebeu as roupas furtadas. Voltou a margem do rio, onde a esperava Obatalá. Obatalá recebeu as roupas e as vestiu. Então voltou para a cidade e, honrando sua palavra, ensinou Oxum a jogar búzios e obis. Desde então, Oxum tem também o segredo do oráculo.
[ Lenda 197 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Obá e Oxum competiam pelo Amor de Xangô. Cada semana, uma das esposas cuidava de Xangô, fazia sua comida, servia à sua mesa.
Oxum era a esposa mais amada e Obá imitava Oxum em tudo, inclusive nas artes da cozinha, pois o amor de Xangô começava pelos pratos que comia. Oxum não gostava de ver Obá copiando suas receitas e decidiu vencer definitivamente a rival.
Um dia convidou Obá à sua casa, onde a recebeu usando um lenço na cabeça, amarrado de modo a esconder as orelhas. Oxum mostrou a Obá o alguidar onde preparava uma fumegante sopa, na qual boiavam dois apetitosos cogumelos. Disse à curiosa Obá que eram suas próprias orelhas, orelhas que ela cortara, segredou cumplicemente. Xangô havia de se deleitar com a iguaria.
Não tardou para que ambas testemunhassem o sucesso da receita. O marido veio comer e o fez com gula, se fartou. Elogiou sem parar os dotes culinários da mulher.
Oba quase morreu de ciúme. Na semana seguinte, Oba preparou a mesma comida, cortou uma de suas orelhas e pôs para cozinhar.
Xangô, ao ver a orelha no prato, sentiu engulhos. Enjoado, jogou tudo no chão e quis bater na esposa, que chorava. Oxum chegou nesse momento, exibindo suas intactas orelhas. Obá num segundo entendeu tudo, odiou a outra mais que nunca.
Envergonhada e enraivecida, precipitou-se sobre Oxum e ambas se envolveram numa briga que não tinha fim. Xangô já não suportava tanta discórdia em casa e esse incidente só fez aumentar a sua raiva. Ameaçou de morte as briguentas esposas, perseguiu-as. Ambas tentaram fugir da cólera do esposo.
Xangô procurou alcançá-las, lançou o raio contra elas, mas elas corriam e corriam, embrenhando-se nos matos, ficando cada vez mais distantes, mais inalcançáveis.
Conta-se delas que acabaram por ser transformadas em rios. E de fato, onde se juntam o rio Oxum e o rio Oba, a correnteza é uma feroz tormenta de águas que disputam o mesmo leito.
[ Lenda 184 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Um dia Oiá foi enviada por Xangô às terras dos baribas. De lá ela traria uma poção mágica, cuja ingestão permitia cuspir fogo pela boca e nariz.
Oiá, sempre curiosa, usou também a fórmula, e desde então possui o mesmo poder de seu marido.
[ Lenda 178 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Ogum caçava na floresta quando avistou um búfalo. Ficou na espreita, pronto para abater a fera. Qual foi sua surpresa ao ver que, de repente, de sob a pele do búfalo saiu uma mulher linda. Era Oiá. E não se deu conta de estar sendo observada. Ela escondeu a pele de búfalo e caminhou para o mercado da cidade.
Tendo visto isso, Ogum aproveitou e roubou a pele. Ogum escondeu a pele de Oiá num quarto de sua casa. Depois foi ao mercado ao encontro da bela mulher. Estonteado por sua beleza, Ogum cortejou Oiá. Pediu-a em casamento. Ela não respondeu e seguiu para a floresta. Mas lá chegando, não encontrou a pele. Voltou ao mercado e encontrou Ogum. Ele esperava por ela, mas fingiu nada saber. Negou haver roubado o que quer que fosse de Iansã. De novo, apaixonado, pediu Oiá em casamento. Oiá, astuta, concordou em se casar e foi viver com Ogum em sua casa, mas fez as suas exigências: ninguém na casa poderia referir-se a ela fazendo qualquer alusão a seu lado animal. Nem se poderia usar a casca do dendê para fazer o fogo, nem rolar o pilão pelo chão da casa. Ogum ouviu os apelos e expôs aos familiares as condições para todos conviverem em paz com sua nova esposa.
A vida no lar entrou na rotina. Oiá teve nove filhos e por isso era chamada Iansã, a mãe dos nove. Mas nunca deixou de procurar a pele de búfalo. As outras mulheres de Ogum cada vez mais sentiam-se enciumadas. Quando Ogum saía para caçar e cultivar o campo, elas planejavam uma forma de descobrir o segredo da origem de Iansã. Assim, uma delas embriagou Ogum e este lhe revelou o mistério. E na ausência de Ogum, as mulheres passam a cantarolar coisas. Coisas que sugeriam o esconderijo da pele de Oiá e coisas que aludiam ao seu lado animal.
Um dia, estando sozinha em casa, Iansã procurou em cada quarto, até que encontrou sua pele. Ela vestiu a pele e esperou que as mulheres retornassem. E então saiu bufando, dando chifradas em todas, abrindo-lhes a barriga. Somente seus nove filhos foram poupados. E eles, desesperados, clamavam por sua benevolência. O búfalo acalmou-se, os consolou e depois partiu. Antes, porém, deixou com os filhos o seu par de chifres. Num momento de perigo ou de necessidade, seus filhos deveriam esfregar um dos chifres no outro. E Iansã, estivesse onde estivesse, viria rápida como um raio em seu socorro.
[ Lenda 166 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oiá foi aconselhada a prosseguir sua jornada ao lado de seu marido Xangô. Enquanto amasse esse homem, não deveria retornar a Irá, sua terra natal, onde vivia sua família. Dividida sentimentalmente, Oiá não seguiu as recomendações e voltou a Irá.
Um dia recebeu a notícia da morte de Xangô. Sentindo grande tristeza pelo ocorrido, usou seus poderes sobrenaturais e transformou-se em um rio, Odô Oiá, o rio Níger.
[ Lenda 171 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Um dia Oiá fugiu aos olhos de Xangô, que saiu em sua busca mata adentro. Oiá não sabia mais onde se esconder, temendo que Xangô a encontrasse. Em fuga, encontrou com Exu e pediu-lhe que fizesse um encanto. Exu aconselhou-a a ficar junto ao mar e voltear-se sobre si mesma. Exu fez a magia e Xangô passou por ela e não a viu. Exu havia transformado Oiá num coral.
[ Lenda 174 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oxaguiã estava em guerra, mas a guerra não acabava nunca, tão poucas as armas para guerrear. Ogum fazia as armas, mas fazia lentamente. Oxaguiã pediu a seu amigo Ogum urgência, mas o ferreiro já fazia o possível. O ferro era muito demorado para se forjar e cada ferramenta nova tardava como o tempo. Tanto reclamou Oxaguiã que Oiá, esposa do ferreiro, resolveu ajudar Ogum a apressar o fabrico. Oiá se pôs a soprar o fogo da forja de Ogum e seu sopro avivava intensamente as chamas e o fogo mais forte derretia mais rapidamente o ferro. Logo Ogum pôde fazer muito mais armas e com mais armas Oxaguiã venceu logo a guerra.
Oxaguiã veio então agradecer a Ogum. E na casa de Ogum enamorou-se de Oiá. Um dia fugiram Oxaguiã e Oiá, deixando Ogum enfurecido e sua forja fria.
Quando mais tarde Oxaguiã voltou à guerra e quando precisou das armas muito urgentemente, Oiá teve que reavivar a forja, mas não quis voltar para a casa de Ogum.
E lá da casa de Oxaguiã, onde vivia, Oiá soprava em direção à forja de Ogum. E seu sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Oxaguiã da de Ogum. E seu sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o mais pelo caminho, até chegar às chamas que com furor atiçava.
E o povo se acostumou com o sopro de Oiá cruzando os ares e logo o chamou de vento. E quanto mais a guerra era terrível e mais urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oiá a forja de Ogum. Tão forte que às vezes destruía tudo no caminho, levando casas, arrancando árvores, arrasando cidades e aldeias. O povo reconhecia o sopro destrutivo de Oiá e o povo chamava isso de tempestade.
[ Lenda 173 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]