sábado, 19 de julho de 2008

"Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei."

O pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo Allan Kardec, (Lyon, 03/10/1804 - Paris, 31/03/1869) foi o codificador da Doutrina Espírita, uma corrente de pensamento nascida em meados do século XIX que se estruturou a partir de diálogos estabelecidos entre Allan Kardec e o que ele e muitos pesquisadores da época concluíram tratarem-se de espíritos de pessoas falecidas (desencarnados), a manifestar-se através de diversos médiuns.

Caracteriza-se pelo ideal de compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que são o científico, o filosófico e o religioso. Cada uma delas, se tomada isoladamente, tenderia a conduzir a excessos de ceticismo, negação ou fanatismo. A doutrina espírita objetiva estabelecer um diálogo entre elas, visando, com isso, à obtenção de uma forma original, a um só tempo mais abrangente e profunda, de compreender a realidade.

Em 1854, o estudioso ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das "mesas girantes", bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal de que era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se volta efetivamente para as mesas, quando começa a freqüentar reuniões em que tais fenômenos se produziam. Convencendo-se de que o movimento e as respostas complexas das mesas eram devidas à intervenção de espíritos, Rivail dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão desta realidade e adota, para essa tarefa, o pseudônimo que o tornaria conhecido - Allan Kardec - nome esse, segundo um espírito, de uma sua possível encarnação anterior, como druida. Abaixo relacionam-se as cinco obras básicas da Codificação:

O LIVRO DOS ESPÍRITOS - Apresenta-se na forma de perguntas, dirigidas ao que Kardec defendia serem espíritos, e respostas, totalizando 1.019 tópicos. A obra se divide em quatro "livros", como comumente se dividiam as obras filosóficas à época, que tratam respectivamente:

Das causas primárias - abordando as noção de divindade, Criação e elementos fundamentais do Universo. Do mundo dos Espíritos - analisando a noção de Espírito e toda a série de imperativos que se ligam a esse conceito, a finalidade de sua existência, seu potencial de auto-aperfeiçoamento, sua pré e sua pós-existência e ainda as relações que estabelece com a matéria.

Das leis morais - trabalhando com o conceito de Leis de ordem Moral a que estaria submetida toda a Criação, quais sejam as leis de: adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e justiça, amor e caridade.

Das esperanças e consolações - concluindo com ponderações acerca do futuro do homem, seu estado após a morte, as alegrias e obstáculos que encontra no além-túmulo.

EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - avalia os evangelhos canônicos sob a óptica da Doutrina Espírita, tratando da aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a prática da adoração, da prece e da caridade. Obra que dá maior enfoque a questões éticas e comportamentais do ser humano.

O LIVRO DOS MÉDIUNS - estudo analítico das diversas modalidades de comunicação estabelecidas entre homens e espíritos.

O CÉU E O INFERNO OU A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO - Compõe-se de duas partes: na primeira, Kardec realiza um exame crítico da doutrina católica sobre a transcendência, procurando apontar contradições filosóficas e incoerências com o conhecimento científico superáveis, segundo ele, mediante o paradigma espírita da fé raciocinada. Na segunda, constam dezenas de diálogos que teriam sido estabelecidos entre Kardec e diversos espíritos, nos quais estes narram as impressões que trazem do além-túmulo.

A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO - aborda diversas questões de ordem filosófica e científica, como a criação do universo, a formação dos mundos, o surgimento do espírito, segundo o paradigma espírita de compreensão da realidade.

Na ocasião do sepulcro de Allan Kardec, eis as palavras de seu amigo astrônomo Camille Flammarion:
"Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra... Sabemos que todos havamos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado.(...) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!"

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