sábado, 19 de julho de 2008

Yemanjá cura Oxalá e ganha o poder sobre as cabeças

Quando Olodumare fez o mundo, deu a cada orixá um reino, um posto, um trabalho.

A Exu deu o poder da comunicação e a posse das encruzilhadas.

A Ogum deu o poder da forja, o comando da guerra e o domínio dos caminhos.

A Oxóssi ele entregou o patronato da caça e da fartura.

A Obaluayê deu o controle das epidemias.

Olodumare deu a Oxumarê o arco-íris e poder de comandar a chuva, que permite as boas colheitas e afasta da fome.

Xangô recebeu o poder do trovão e o império da lei.

Oiá-Iansã ficou com o raio e o reino dos mortos, enquanto Yewá foi governar os cemitérios.

Olodumare deu a Oxum o zelo pela feminilidade, riqueza material e fertilidade das mulheres. Oba ganhou o patronato da família e Nanã, a sabedoria dos mais velhos, que ao mesmo tempo é princípio de tudo, a lama primordial com que Obatalá modela os homens.

A Oxalá deu Olodumare o privilégio de criar o homem, depois que Odudua fez o mundo. E a criação se completou com a obra de Oxaguiã, que inventou a arte de fazer os utensílios, a cultura material.

Para Yemanjá, Olodumare destinou os cuidados de Oxalá. Para a casa de Oxalá foi Iemanjá cuidar de tudo: da casa, dos filhos, da comida, do marido, enfim.

Yemanjá nada mais fazia que trabalhar e reclamar. Se todos tinham algum poder no mundo, um posto pelo qual recebiam sacrifício e homenagens, por que ela deveria ficar ali em casa feito escrava?

Yemanjá não se conformou. Ela falou, falou e falou nos ouvidos de Oxalá. Falou tanto que Oxalá enlouqueceu. Seu ori, sua cabeça, não agüentou o falatório de Iemanjá. Iemanjá deu-se então conta do mal que provocara e tratou de Oxalá até restabelecê-lo. Cuidou de seus ori enlouquecido, oferecendo-lhe água fresca, obis deliciosos, apetitosos pombos brancos, frutas dulcíssimas. E Oxalá ficou curado.

Então, com o consentimento de Olodumare, Oxalá encarregou Yemanjá de cuidar do ori de todos os mortais. Yemanjá ganhara enfim uma missão tão desejada. Agora ela era senhora das cabeças.

[ Lenda 237 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]


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